Fomos a Évora, eu e o Gilo, ao enterro da Josete (a Regina não pôde ir). Céu escuro, chuva. Josete estava na câmara mortuária do hospital. Não lhe vi o rosto, tapado por um cendal, mas reconheci-lhe as mãos de dedos encravelhados do reumatismo. Alberto Silva e os filhos, a Zeca e o Jorge, mais outros familiares e amigos. E imensa gente que me procurou e falou e confusamente se alegrou de me ver. Era gente do meu tempo e eu decerto lhe proporcionava a recuperação desse tempo que era como se não fosse definitivamente perdido. E depois do enterro, fomos almoçar ao Fialho. E inevitavelmente encontramos mais gente conhecida. E depois do almoço divagámos pela cidade. Gilo quis ir ver a Travessa do Sabugueiro, 3-A, que era ali perto e onde vivemos os primeiros anos de Évora. Depois pôs gosto em percorrer a cidade toda para se apropriar também do tempo que passou. E eu reparei que a cidade, sendo a mesma onde a procurámos, se retirava um pouco da minha lembrança para um certo modo de ser em pequenez de brinquedo e estranheza em que me não reconhecia de todo, mas reconhecia a pessoa que eu tora de quando lá vivi. Porque não era o caso de me parecer mais pequena do que julgara, como acontece com o que é da nossa infância. Era uma pequenez em conformidade com a pessoa que lá vivera e fora a minha.
E por fim regressámos, ainda com chuva, e mais depressa do que fôramos, embora tivéssemos levado mais tempo…
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