• Quando lhe anunciaram a candidatura presidencial de certo indivíduo de reputação duvidosa, ele propôs este slogan: «Antes pior que assim!»
• Avisto das minhas janelas, a distância, os arranha-céus de Wall Street, hoje dominados pelas gigantescas torres gémeas do Trade Center. Anoiteceu. Vénus sumiu-se. Os faróis dos aviões cortam a paz do céu em todos os sentidos, como estrelas cadentes. O crescente da Lua, de longe seguido por Júpiter, baixa serenamente no horizonte do mundo dos negócios. E lembra-me, em pensamento futurível – futuríssimo! –, a melodia de Debussy: Et Ia lune descend sur le temple qui fut…
• Este semiletrado provinciano, que fala de «ideias» mas nunca mexeu um dedo para as servir, e tem vivido repimpado a ver os outros – os «mártires» – marchar para o calvário, lamenta que eu já não escreva o que, ou como, escrevia há quarenta anos, e por isso deixei de ter interesse para ele. Quereria ele que eu ficasse a repisar slogans ultrapassados, a repetir afirmações de fé desnecessárias (porque nunca as desmenti), e, diante da impossibilidade de me realizar, eu não fizesse mais nada na vida, com a minha vida? Há destas «admirações» que nos limitam e constrangem! E certas «fidelidades» que resultam retrógradas, porque teimam em ver o futuro como ele se afigurava no passado, e não como ele se oferece nas circunstâncias do presente. Quando alguns amigos de Vladimir Illitch Ulianov o acusavam de renegar ou contradizer, em 1910, o que afirmara em 1905 ou 6, ele respondia que, fiel aos princípios, formulava no entanto interpretações e directrizes para situações que já não eram as mesmas daquele outro tempo.
• Estilo novo: a arte de dizer o mínimo possível de ideias (e de factos) no máximo possível de palavras, e, naturalmente, de citações de autores.
• É-nos fácil citar, dos mortos, aquilo que mais convém aos nossos fins. Mais difícil e mais proveitoso seria pintá-los tais como eles foram na vida real, pública ou particular, com os seus erros e defeitos, e as suas possíveis qualidades. Porque as obras, as ideias, são com frequência resultado do esforço de compensação, ocultação ou contradição das nossas pessoais maneiras de ser, sentimentos e objectivos. Como em Frei Tomás…
• Os homens pareceram de repente possuídos de patrioturismo…
• Como os negócios corriam mal, em vez de Discoteca, passou a chamar-se Disco-Bar: do nome do proprietário, D’Escobar. Outra, que era Bar-Café, deu em ser conhecida por Barca-Fé. Com a respectiva insígnia a néon – uma nave (de loucos) com a cruz nas velas.
• «Venha para cá sofrer connosco!», diziam-lhe. E ele: «Não, querido amigo. Sofro aqui muito mais… e melhor!»
J. R. Miguéis
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