sábado, 13 de agosto de 2011

A religião greco-romana

Um grande número de tradições religiosas polimorfas coexistia no Império Romano aquando do nascimento e difusão do Cristianismo (sécs. I-IV).

O mundo religioso da bacia do Mediterrâneo onde se difundiu a mensagem cristã caracterizava-se pelo pluralismo e pela coexistência de cultos antigos e novos em concorrência uns com os outros. Qualquer país subordinado a Roma podia assim, graças à política de tolerância praticada pelo governo imperial, conservar as suas tradições religiosas e os seus cultos ancestrais. Os começos da era cristã viram nascer e afirmarem-se simultaneamente cultos novos que foram denominados religiões orientais. A religião romana, ou melhor dizendo a dos conquistadores e dominadores romanos, soube inserir-se sagazmente neste mosaico. O Império alargou-se, e o édito de Caracalla (188-217) concedeu a cidadania romana a todos os seus habitantes; foi neste contexto que a actividade religiosa destes se desenvolveu num duplo registo: paralelamente às formas de culto ancestrais e privadas, praticava-se uma religião pública, civil e política, centrada na oferenda de sacrifícios de sangue ao génio do imperador para favorecer a pax deorum e a saúde do Império. Esta situação apresenta traços comuns com a da religião greco-romana, a começar pelo politeísmo, que implicava a existência de um panteão mais ou menos harmonioso de diferentes divindades dirigidas por um Deus supremo, o Zeus dos Gregos e o Júpiter dos Romanos. A religião greco-romana tinha conservado numerosas práticas tradicionais  da divinização e dos oráculos até aos rituais mágicos , que permaneceram com vigor até ao triunfo do Cristianismo, que viria combatê-los com dureza.

Notas complementares
A confrontação e a coexistência de diferentes panteões religiosos durante os primeiros séculos da era cristã foram favorecidos pela flexibilidade do sistema politeísta, que permitia o que se denominava de a interpretatio graeca ou romana: os novos deuses eram considerados manifestações de divindades já conhecidas e devido a isso eram venerados e incluídos no panteão mais lato. Além disso, chegou a aparecer uma tendência monoteísta, que privilegiava, sobre os restantes deuses, uma divindade monoteísta.

Graças à interpretatio romana, Jupiter Dolichenus (ou de Dolique), em princípio um deus hitita-hurrita da fertilidade e do trovão, foi venerado na época imperial pelos escravos, pelos soldados e pelos comerciantes de origem oriental, e tornou-se muito popular nas cidades e vilas com forte presença militar. Esta divindade é habitualmente representada por um soldado romano, em pé sobre um touro e que leva na mão um raio e um machado de dois gumes. 
Este culto é um exemplo típico do sincretismo religioso do Império Romano. Os Romanos respeitaram as múltiplas tradições religiosas dos povos submetidos que compunham o seu vasto império, sempre que não representassem uma ameaça para a integridade política do Estado e sempre que os seus devotos se mostrassem leais ao imperador e lhe rendessem devidamente o preito necessário. O politeísmo favorecia, além da adesão a diversas religiões, a possibilidade de identificar os próprios deuses locais com as divindades características da potência dominante.


Cristianismo - Origens e difusão - O contexto a partir das origens

Leitura de Giovanni FiloramoOrigem e difusão do Cristianismo
Ver os números anteriores: 123 e 4


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