O contexto a partir das origens
Expressão moderna que se refere a um conjunto de cultos, originários do Oriente, e que se difundiram por Roma, e pelo Império durante os primeiros séculos da era cristã.
Os cultos orientais, mesmo os de origem muito antiga, tiveram uma forma e um significado novos no momento em que, a partir do século I, se difundiram pela bacia do Mediterrâneo. Em muitos casos, adoptaram a feição de cultos com mistérios e rituais de iniciação, e a sua mensagem incidia sobre a salvação individual para os iniciados e a promessa de uma vida feliz após a morte. Caracterizavam-se geralmente pela complexidade da sua mitologia e dos seus rituais, frequentemente centrados sobre a morte e a ressurreição da sua principal divindade como é o caso do Adónis fenício e do Osíris egípcio. Mesmo quando se difundiram por todo o Império, os cultos orientais podiam, contudo, ser reconhecidos em função da sua procedência: cultos de Osíris e de Ísis, originários do Egipto; culto de Mitras, originário da Pérsia; e o culto de Cibele, originário da Frígia. Os ritos em honra de Osíris fundiram-se com os que se praticavam para a sua irmã-esposa Ísis: à possibilidade de prosseguir a vida no além oferecida por Ísis vieram associar-se outros traços que transformaram a sua figura numa divindade cósmica dispensadora de todos os bens, asseguradora e salvadora. Introduzido pela primeira vez em Roma em 204 a.C., I e logo rejeitado, o culto de Cibele, a Grande Mãe frígia, permaneceu vivo durante toda a época imperial; era caracterizado pelo taurobóleo (sacrifício de um touro) e por ritos violentos praticados pelos seus sacerdotes, como o da auto-castração.
Difundido principalmente entre as legiões romanas, baseia-se no culto ao deus persa Mitras, adorado no Ocidente sob o nome Sol Mitras. Tratava-se de um culto esotérico reservado exclusivamente aos homens, cujas celebrações tinham lugar num pequeno templo, o mithraeum («santuário do culto mitríaco»), geralmente uma gruta ou um espaço subterrâneo. A iniciação previa uma hierarquia de sete degraus, cada um deles colocado sob a protecção de um astro. O Mitraísmo conheceu uma considerável difusão, atestada pelas descobertas arqueológicas e pela epigrafia.
A grandeza e a pujança de Ísis são celebradas em inúmeros hinos compostos para cantar a suas virtudes de curandeira e de salvadora. Os Antigos tinham já tendência a ver naquela Ísis com mil nomes uma única divindade, capaz de proteger e dar assistência a quem a invocasse.
O culto de Ísis, que se contava entre os mais estendidos pela bacia do Mediterrâneo, ilustra bem duas características fundamentais das religiões orientais: as suas profundas raízes nas tradições religiosas mais antigas – neste caso, a história milenar do Egipto – que voltam a ter uma vida nova, e o fascínio que o Oriente, carregado de mistério e detentor de saberes e sabedoria desconhecidos, exerceu ao longo da época imperial.
* Mithra taurochtone, cópia de um original de Lísipo, sécs. III-IV
Nápoles, Museu Arqueológico Nacional
* Ísis amamentando Harpócrates, sécs. III-IV
Karanis (Egipto)
Giovanni Filoramo, Origem e difusão do Cristianismo
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