domingo, 14 de agosto de 2011

Albufeira, 14 de Agosto de 1979


Não sei que vento o trouxe de terras estranhas. Sei que há muito aportou aqui e que, afortunadamente, criou raízes. Como que a dar-lhes alimento, estuda as várias manifestações da nossa cultura popular, desde a música às danças, aos adágios, à culinária, às próprias mezinhas com que nos curamos. Foi desses tesouros – alguns definitivamente salvos pelo seu carinho – que, de resto, falámos largo tempo, ele a discretear e eu a sentir, emocionado, que tinha diante de mim um livro aberto da pátria. O café era uma Babel. Idiomas de todos os continentes cruzavam-se em todas as direcções. E, na minha aflição nativa, nada me podia dar mais consolo do que encontrar um paroxismo de lusitanidade naquela natureza em boa hora transplantada. Tive a impressão súbita de que o Algarve voltava a ser português.
DIÁRIO (XIII), p. 101

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