Durar muito. É a única maneira de se poder perspectivar capazmente todos os altos e baixos da vida. Saber que a razão chega onde chega, que os sentimentos têm vários lados, que por detrás de cada aparência se oculta uma inaparência, que há defeitos bons e virtudes más, que tudo é complexo e vão...
É verdade que quem parte cedo deixa de si a imagem de uma esperança frustrada, e que quem fica se sujeita a ser uma frustração patenteada. Mas vale a pena correr o risco. Mesmo quando se falha redondamente, leva-se para a sepultura um tesoiro inestimável: a conformidade com os nossos limites, o conhecimento desabusado da realidade. O que eu teria perdido se não tivesse amado tanto, visto tanto, sofrido tantas desilusões, sido tão controverso, lido tantos livros, e me faltassem na experiência emotiva e mental as guerras, as descobertas e as catástrofes a que assisti! Durar muito. Durar o bastante para não ter pena de deixar o saber e a prática do mundo.
DIÁRIO (XIII), p. 100 e s.
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