terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Coimbra, 26 de Fevereiro de 1981

O Sexto Dia da Criação do Mundo finalmente nas montras. Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo! Era com estas palavras que meu Pai despegava das leiras, e não encontro outras mais apropriadas para esta hora. O Velho, como um Job do enxadão, crente e resignado, enxugava o suor da jorna a exaltar o Altíssimo; eu, Job da caneta, descrente e rebelde, imito-lhe a exclamação a dar apenas voz tutelar ao alívio que sinto. Acabei a longa vessada da minha vida. E quero que seja o honrado exemplo progenitor, assim trazido à lembrança, a autenticar a penitência que cumpri de ter metido setenta anos de sofrimento em mil páginas de disciplina.
Miguel Torga

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