sábado, 2 de fevereiro de 2013

2 – Fevereiro (sexta) [1990]

E eis-me regressado aqui, ao meu repouso, depois do imenso esforço na cópia e revisão do romance. Ficou definitivamente Em Nome da Terra (que em francês é mais amável Au nom de la Terre). E quanto a romance, acabou. Foi o meu adeus às armas. E que bom regressar à minha paz interior. Decerto não mais sairei daqui, deste estar comigo, esta beatitude que esqueci. Escrever romance é estar na rua, por mais que se esteja em casa. Há o público que não nos larga e a infindável cadeia dos que aplaudem ou pateiam ou rosnam injúrias menos publicáveis. Estou infinitamente cansado. Mas há que expulsar ainda o público à espreita destes mesmos escritos de «confidência». Porque desde que pensei na publicação do diário, pensei logo no público implícito a essa publicação. Queria verdadeiramente estar só. Pensar comigo. Escrever no interior de mim. Precisava tanto que a saúde dissesse que sim. Mas tem sido um estupor. Desorganizou-me os nervos até ao desespero e ao transtorno mental. E estou tão cansado. Pensar a vida no seu verdadeiro limite é difícil. Saber que a morte está à espreita, cheia de pressa para avançar, é dificílimo. Hã sempre a ilusão de mais um ano, um mês, um dia. E um intervalo de uma hora sequer, é dentro dela de um tamanho igual ao de um ano ou mais. Nós somos o absoluto do instante em que vivemos. E assim ele não tem dimensões. De todo o modo acabei o romance. E isso é agora a ameaça da sua publicação e da selva espinhosa a atravessar aí. A paz, a paz. Que ela venha, enfim. E com ela ou para ela o equilíbrio de mim, da minha cabeça, dos meus nervos, de toda a minha convulsão interior. Neste mesmo instante – a ameaça de entrar em perda de consciência. Paremos. 

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