quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

7 – Fevereiro (sexta) [1990]

Afinal a minha vocação era a de profeta. Não é uma vocação em cheio nem sequer tenho barbas. Mas que tenho um jeito, é inegável. Ainda agora eu dei no vinte quando detectei a estratégia do Gorbatchev. Disse eu que a sua táctica era deitar fogo à comunada dos países da vanguarda enquanto ele se mantinha no fortim lá detrás. E quando tudo estivesse a arder, rebentava ele com a comunada do interior. Meu dito meu feito. Ontem na TV, velhos e novos desataram a blasfemar contra o vigário que lhes tinham infligido e à pergunta sobre se queriam mais comunismo, foi aos berros e em uníssono que eles proclamaram niet, niet! O amigo Cunhal e os seus gerontes, por espírito de coerência com o que sempre nos fulminaram, devia agora dizer que se trata apenas de anticomunistas primários. Pobre velhada, já tão córnea para germinarem em ideias novas.
De tudo isto, porém, o que mais me surpreende é que o pagode em geral e a inteligência em especial, ainda não deram indícios de terem percebido que um grande vazio se abriu na História. Decerto ela não acabou, ao contrário do que alguns pensam. Mas fechou as contas para um enorme balanço e abrir de seguida uma conta nova. E nessa conta toda a malandragem e ingénua comunada entra no Deve e não no Haver. Porque é ela o maior passivo de quantas contas novas a Humanidade já abriu.

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