sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

8 – Fevereiro (sexta) [1990]

Aqui me venho desfazer em escrita, enquanto me não visita de novo a ficção em forma humilde de conto ou novela. E assim aproveito o regime de dieta para mastigar o que me não faça mal e facilite a digestão. Cavaqueira, pois, inconsequente. Confraternizei há pouco num novo restaurante brasileiro, ali à Praça de Alvalade, com as minhas amigas camonianas, a Clarisse, a Judith e a Margarida. Todos lá passamos o Equador depois que em Dezembro a Margarida cinquentanizou e agora todos entrámos em «contagem decrescente» como se diz em astronáutica. E isso vê-se já subscrito na face, mesmo das mais jovens, com um leve apagamento do que é vitalidade, ainda que na alegria da conversa. Mas o almoço.
Eu tinha ainda na memória estes repastos carniceiros com que no Brasil me alimentaram. Todas as vacas das pradarias vieram ao serviço com as múltiplas faculdades acepipeiras com a Natureza as dotou. E assim, depois dos chamados aperitivos, são já um almoço a transbordar, vieram os serviços de base que essencialmente consistiam na vinda sucessiva de um funcionário, armado com uma longa «espetada» de carnes várias que nos iam fatiando para o prato até o demónio da gula dizer basta, E no fim frutas endógenas e exógenas e o café cigarrado para a assossega. Eu tinha feito à Clarisse uma consulta sobre a Judite da Bíblia que nas minhas várias bíblias se tinha escapada para o não-ser, como Deus. Mas ela tinha uma Bíblia «dos Capuchinhos» em que a dita Judite funcionava ainda. E leva de me oferecer, com as duas outras amigas, um exemplar do grande livro. Fiquei derretido, como é de ver. E agora vou reler a Grande Lei, porque assim em edição desconhecida e em estado novo, é como se nova ela fosse também. E talvez tenha uma conversa de homens com o esquecido Jeová – mesmo com o doce Jesus Cristo, em todo o caso mais do meu convívio e simpatia.

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