Funchal, 25 de Agosto de 1980 – Cá estou de novo, depois
dum salto que juntou numa só duas aflições. A que sentia no Algarve e a que
sinto aqui. Guardião mico da identidade nacional, padeço tormentos sempre que a
vejo ameaçada. E em ambos os sítios isso acontece. Chega a meter raiva. Nos
lugares cosmopolitas lá de fora, nenhuma invasão estrangeira altera o perfil
nativo. Veneza é a mais italiana das terras
italianas. Nas nossas estâncias turísticas, pelo contrário, o alheio
sobrepõe-se de tal modo ao caseiro que o configura. É um mimetismo trágico, que
nos põe a falar, a pensar e a sentir como o invasor. Sei que há uma eternidade
na criatura para além de todas as circunstâncias exógenas. Os pescadores de Câmara
de Lobos ou de Lagos, como tais, hão-de ter
sempre a mesma têmpera de homens do mar. Mas gosto mais deles com os estigmas
portugueses bem à vista. Dão-me outras garantias de irmandade.
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