Não consigo lê-lo sem forçar
a natureza. Há em mim uma exigência instintiva de autenticidade que pressente,
de longe, a impostura de um texto. Lançar ao papel uma só linha que seja que
não obedeça àquele imperativo que faz a honra da literatura parece-me um
atrevimento sacrílego e um ultraje à vocação. Imagino sempre o autor diante da
página vazia numa atitude recolhida de professo, à espera da graça do verbo.
Ora, no caso vertente, trata-se de um daqueles bem-aventurados que, seguros do
seu talento, nem perdem tempo a merecê-lo nem ocasião de o exibir. Apenas
sensíveis às variações do gosto e aos favores do aplauso, pouco lhes importa a
essencialidade e a têmpera da obra. Mundanos das letras, tanto no oportunismo
como no impudor, agentes de si próprios, não há promoção a que resistam. Dão-me
sempre a impressão de que escrevem os livros na montra das livrarias.
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