Coimbra, 2 de Julho de 1974 – Não tenho paz.
Rói-me não sei que desespero avesso a toda a consolação. As únicas horas
suportáveis são aquelas em que espalho tinta no papel. Mas quando, à custa de
esforços inauditos, acabo por escrever um livro, nem me sinto aliviado, nem o
sinto meu. É como se todo aquele articulado fosse doutro entendimento, e todos
aqueles gemidos fossem doutro penitente. Duplamente exilado dentro da realidade
que sou e do acréscimo de realidade que criei, vejo-me desfigurado e opaco,
igualmente fora de mim e da minha imagem estampada.
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