Crianças Ilegais:
Em
Levier, na França, Leonarda Dibranni, uma menina com quinze anos, de origem
kosovar e etnia cigana, participava numa excursão com os seus colegas quando
tocou um telemóvel. A professora de Geografia atendeu o presidente da câmara,
que passou a um polícia. Este ordenou-lhe que parasse o autocarro para deter
a aluna, por estar em situação irregular.
Hoje, 01h00
Por: Fernanda
Palma, Professora Catedrática de Direito Penal
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Estes
acontecimentos, que provocaram fortes protestos e manifestações massivas contra
o ministro do interior francês, Manuel Valls, revelam que a Europa rica deixou
de ser o coração da cultura humanista. O regresso a um nacionalismo anacrónico
e a defesa da "realpolitik" em matéria de imigração deixaram de ser
orientação exclusiva da extrema-direita xenófoba.
Porém, a
captura desta adolescente, a poucos dias das eleições locais, revoltou os
jovens franceses, que conseguiram vê-la como um dos seus e saíram à rua. Esta
atitude voluntariosa transmite-nos a sensação reconfortante de que séculos de
cultura podem ser desprezados por governantes e burocratas, mas ainda povoam os
sonhos de justiça dos mais novos.
Temos de
reconhecer a superioridade da solução portuguesa, que, através do programa
"SEF vai à escola", criado em 2009, tem procurado evitar sempre
situações desumanas de expulsão de crianças, numa orientação contrária à que
foi seguida pelas autoridades francesas. Aliás, é difícil compreender a
política francesa, numa Europa cada vez mais envelhecida.
A ação
da polícia portuguesa parte da premissa de que a escola é um lugar de inclusão.
As crianças que estão integradas numa cultura e partilham os seus valores não
podem ser excluídas. Essa conclusão é imposta pela Convenção da ONU de 1989,
pela qual os Estados se obrigam a respeitar os direitos das crianças
independentemente da sua origem nacional.
Numa
ocasião em que o Conselho da Europa dá orientações às jovens democracias sobre
os direitos da criança, a velha e culta Europa não consegue inscrever no seu
Direito uma ideia simples, que os adolescentes de Paris souberam formular: não
há crianças ilegais. Cabe aos Estados assegurar o seu livre desenvolvimento no
quadro da escola e da família.
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