Há terras onde vão a carácter determinadas expressões. Certa ostentação,
certa grandiloquência, certa retórica. Esta cidade de Portalegre, desde o nome,
ao mausoléu monumental com que em vida um bispo nela se preveniu, à toada
barroca em que um poeta a cantou, parece enfunada por não sei que vento
hiperbólico. Mas a gente deixa-se arrastar por esse descomedimento. Gosta dos
palácios majestosos, dos brazões flamejantes, dos mármores coloridos, dos
ferros forjados. Gosta de testemunhar uma candura provinciana que se
desconhece, presunçosamente escarolada ao parapeito da paisagem larga, a ver
passar o tempo convencida de que tem um salvo conduto para a eternidade.
Miguel Torga
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