sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Pastor de Bensafrim - Zeca Afonso



Ó ventos do monte

Ó brisas do mar

A história que vou contar

Dum pastor Florival

Meu irmão de Bensafrim

Natural rezava assim


Passava ele os dias

No seu labutar

E os anos do seu folgar

Serras vai serras vem

Seu cantar não tinha fim

O pastor cantava assim


Ó montes erguidos

Ó prados do mar em flor

Ó bosques antigos

Trajados de negra cor

Voa andorinha

Voa minha irmã

Não te vás embora

Vem volta amanhã

Dizei amigos

Dizei só a mim

Todos só de um lado

Quem vos fez assim


Dizei-me mil prados

Campinas dizei

A história que não contei

Serras vai serras vem

O seu mal não tinha fim

O pastor cantava assim


Ó montes erguidos

Ó prados do mar em flor

Ó bosques antigos

Trajados de negra cor

Voa andorinha

Voa minha irmã

Não te vás embora

Vem volta amanhã

Dizei amigos

Dizei só a mim

Todos só dum lado

Quem vos fez assim


Seu bem que ele vira

Num rio a banhar

Ao vê-lo vir espreitar

Nunca mais apareceu

Ao pastor de Bensafrim

Sua dor chorava assim


Ó montes erguidos

Ó prados do mar em flor

Ó bosques antigos

Trajados de negra cor

Voa andorinha

Voa minha irmã

Não te vás embora

Vem volta amanha

Dizei amigos

Dizei só a mim

Todos só dum lado

Quem vos fez assim


PASTOR DE BENSAFRIM (Letra e música de José Afonso)

Ouvi uma criança cantando:

                                         "Num dia corri o mundo

                                         Aqui cheguei à tardinha..."

Estes dois versos motivaram a síntese que fez nascer Bensafrim e o seu pastor. Levei tempo a concluir o texto para a melodia que já estava feita. O povoado existe, com efeito, lá para os lados de Aljezur mas o pastor é um subproduto bucólico roubado aos zagais das éclogas de Bernardim e Cristóvão Falcão. Um pouco levianamente fui levado pelo jogo das rimas à reconstituição do velho drama pastoril cujo nome, "Bensafrim", os montes e as ervinhas repetem até aos mais humildes recantos da Serra Algarvia.

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