quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Coimbra, 17 de Outubro de 1980

Coimbra, 17 de Outubro de 1980 – Curvada e encarquilhada, cuidei que a trazia a esperança de que lhe desse qualquer alento à velhice. Mas não. Andava a preparar-se para morrer e vinha liquidar uma consulta que tinha em débito há mais de quarenta anos. Nunca pudera pagar-me. Mas agora, que a vida dera uma volta...
Esquecido dela e da dívida, tentei de todas as maneiras dissuadi-la do propósito. Nada consegui.
– É que nem sequer me lembro!
– Lembro-me eu. E quem vai prestar contas a Deus não é vossemecê...
– Ele não trata dessas ninharias...
– Trata de tudo o que esteja na nossa consciência.
E não tive remédio senão aceitar os vinte escudos de então, a invejar aquela alma simples que se podia desobrigar com tão pouco. 

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