Coimbra, 17 de Outubro de 1980 – Curvada
e encarquilhada, cuidei que a trazia a esperança de que lhe desse qualquer
alento à velhice. Mas não. Andava a preparar-se para morrer e vinha liquidar
uma consulta que tinha em débito há mais de quarenta anos. Nunca pudera
pagar-me. Mas agora, que a vida dera uma volta...
Esquecido dela
e da dívida, tentei de todas as maneiras dissuadi-la do propósito. Nada
consegui.
– É que nem
sequer me lembro!
– Lembro-me
eu. E quem vai prestar contas a Deus não é vossemecê...
– Ele não
trata dessas ninharias...
– Trata de
tudo o que esteja na nossa consciência.
E não tive
remédio senão aceitar os vinte escudos de então, a invejar aquela alma simples que
se podia desobrigar com tão pouco.
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