• Julgo por vezes ver
claro no teu pensamento: que tu me estás evitando, ou fugindo, não por não me
teres amor, mas ao contrário: porque receias a cadeia que ele é para ti, ou tornar-te
prisioneira dele. Fraca consolação para a dúvida em que eu vivo!
• «O proletariado», diz
o filósofo, «é o santo-e-senha graças ao qual um sem-número de pseudo ou
semi-intelectuais se vão amanhando com chorudos e estéreis empregos, à custa de
todos nós, os que trabalhamos.»
• O nosso maior defeito
ou vício é o desmedido orgulho. Na verdade, o da estupidez ou incriatividade
que não se vê a si própria. Inversamente: a carência total de humildade. (Não
confundir com a dos humilhados!) Coisa que se revela em quase todos os nossos
actos e sobretudo no infindável palanfrório que nos vamos habituando a
confundir com a liberdade de palavra.
• Esta multidão
apressada e feliz, das grandes metrópoles, que caminha como quem vai a um
destino, sempre lhe causou inveja, o excitou e fez desejar ter também um propósito
na vida, como fosse um emprego de importância ou de utilidade, ou mesmo uma
posição política de influência ou relevo. Coisas que a sorte nunca lhe ensejou!
• Encontrei-o na rua, de viseira
caída:
– Homem, que
bicho lhe mordeu?
– Estou
resolvido a aderir ao Partido Comunista!
– O quê! Você
que foi sempre um moderado, um conservador para não dizer reacionário?! E ainda
por cima católico!
– Por isso mesmo. Sofri sempre deste meu pendor cristão a estar ao lado
dos vencidos!
• Diz-me este sujeito
com rancor: «Mas você nunca se ocupa de política!» (O que é calúnia, pois que
de vez em quando me escapa um comentário político dos muitos que calo!)
Respondo: «Não falar de política é hoje para mim o melhor sinal de que existe
um alto grau de liberdade em Portugal!»
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