sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Pisa, 17 de maio 2012

O rio Arno atravessa Pisa, em semicírculo, enquadrado por uma dezena de pontes. O autocarro deixou-nos na Ponte della Citadella, vindo de San Giuliano Terme, uma vilazinha termal da Toscana, onde viveu a família Shelley. Caminhar à beira do Arno pela Via Lungarno e contemplar a água e a velha arquitectura de Pisa é um bem-estar poético. Ali ficam os antigos Palazzos Toscanelli e Chiesa. O primeiro foi morada de Byron e é hoje o Arquivo da Cidade. No meio dos investigadores circunspectos que lá dentro devoram calhamaços seculares, pode ver-se o tecto onde sobressai uma pintura com Byron em cima de um cavalo branco.
Diz-se que, após as suas conhecidas caçadas e outras aventuras pisanas, Byron subia as escadarias de pedra do palácio montado a cavalo, em triunfo. Das janelas do Toscanelli via do outro lado do rio o Palazzo Chiesa (hoje um edifício particular) que era a casa onde viviam Mary e Percy Shelley. Acenavam-se, cumprimentavam-se e combinavam encontros. Shelley perdia-se em grandes caminhadas pelos arredores, muitas vezes até à exaustão, tendo que ser procurado por criados e autoridades locais.
Continuando pela margem do Arno, logo a seguir à praça Garibaldi deparamos com o mais antigo café de Pisa e um dos cafés literários mais conhecidos de Itália, o Caffè dell’Ussero incrustado, desde 1775, no barroco Palazzo Agostini (séc. XV), mesmo ao lado do Royal Victoria Hotel, poiso do ensaísta e crítico pré- rafaelita John Ruskin. Este café, frequentado por Byron e Shelley era, no séc. XIX, o local preferido dos estudantes revolucionários liberais e jacobinistas e esteve ligado aos carbonários. Byron inscreveu-se mesmo na Carbonária em Pisa, apoiando com dinheiro a compra de armas. E Shelley projectou fundar ali um jornal intitulado The Liberal.
Lutava-se então pela unificação da Itália. Por ali andou disfarçado Giuseppe Mazzini, o revolucionário contemporâneo de Garibaldi ao lado do qual lutou pela democracia popular num estado uno e republicano. Lá está ainda hoje a portinha clandestina, no interior do Ussero, por onde os estudantes fugiam quando a polícia do regime investia por ali adentro. Comi ao almoço uma bela e atomatada sanduiche italiana, à espera dos novos revolucionários do séc. XXI, mas ninguém apareceu, não foi por enquanto preciso abrir a porta clandestina. À saída de Pisa, em queda lenta, vê-se a Torre Pendente, mas deixemos isso para as invasões de asiáticos, espanhóis, franceses e brasileiros que rumam de férias a Itália. 

Sem comentários:

Enviar um comentário