Dia de chuva,
para contentamento da Hélia. Uma pausa no calor de final de Maio. Estamos na
bela Toscana dos bosques,
das aldeias, dos vales, das Villas e dos Alpes Apuanos. Bom ar
fresco, respiração aberta, paisagem verdíssima e forte, arvoredo denso que
constrói túneis enormes. A natureza fascina-nos. Por alguma razão, para os
italianos da classe média e para os estrangeiros ricos é “bem” ter uma casa na
Toscana.
Lucca fica a poucas
dezenas de quilómetros de Pisa.
Conhecida pelas ruas estreitas e pela antiga praça principal de magnifica arquitectura
– praça do Teatro
Romano, redonda, pequena, com o casario cheio de janelas e portadas, com
entradas em arco. Lucca possui também umas termas famosas, os Bagni de Lucca,
igualmente frequentadas pelos Shelley.
Após umas
corridas, já que dispenso chuva pesada e fria, chegamos ao antigo e lindíssimo
Caffé Literário Caselli, hoje chamado Simo,
na via Fillungo. Mantém a
traça com balcões, vidraças, espelhos, cadeiras de madeira, salas, mesas de
tampo de mármore, muitas luzes e um piano. Existe uma placa evocativa do senhor
Caselli, amigo de escritores
e pintores, e um mural onde se pode ver as caras de Quasimodo, Benedetti, Ungaretti, Mancini, Magri, entre outros. Uma foto de Puccini com a
dedicatória a Caselli assinala no alto da parede a presença do músico.
Com a roupa
num pingo, a Hélia percorreu o café deslumbrada. Pareceu-me que ia dançar. O
empregado de mesa ia no seu encalço, mas era difícil escolher um lugar, tanta era
a euforia. Pedida uma bebida quente, a Hélia protestou contra o preço invulgarmente
alto dos bolinhos secos. Não havia mais nada para comer, o pão esgotara. Ficámos
pelas bebidas. Passados minutos, o gerente do café presenteou-nos com um prato
de bolinhos. Uma oferta da casa.
Deverá ter
suposto – e acertaria – que éramos uns pobres escritores a viver um sonho
qualquer, uma memória literária que ali está guardada, uma coisa de algum modo
sagrada. Riu-se. Por momentos, os seus olhos pareceram felizes.
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