segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Lucca, 20 de maio de 2012

Dia de chuva, para contentamento da Hélia. Uma pausa no calor de final de Maio. Estamos na bela Toscana dos bosques, das aldeias, dos vales, das Villas e dos Alpes Apuanos. Bom ar fresco, respiração aberta, paisagem verdíssima e forte, arvoredo denso que constrói túneis enormes. A natureza fascina-nos. Por alguma razão, para os italianos da classe média e para os estrangeiros ricos é “bem” ter uma casa na Toscana.
Lucca fica a poucas dezenas de quilómetros de Pisa. Conhecida pelas ruas estreitas e pela antiga praça principal de magnifica arquitectura – praça do Teatro Romano, redonda, pequena, com o casario cheio de janelas e portadas, com entradas em arco. Lucca possui também umas termas famosas, os Bagni de Lucca, igualmente frequentadas pelos Shelley.
Após umas corridas, já que dispenso chuva pesada e fria, chegamos ao antigo e lindíssimo Caffé Literário Caselli, hoje chamado Simo, na via Fillungo. Mantém a traça com balcões, vidraças, espelhos, cadeiras de madeira, salas, mesas de tampo de mármore, muitas luzes e um piano. Existe uma placa evocativa do senhor Caselli, amigo de escritores e pintores, e um mural onde se pode ver as caras de Quasimodo, Benedetti, Ungaretti, Mancini, Magri, entre outros. Uma foto de Puccini com a dedicatória a Caselli assinala no alto da parede a presença do músico.
Com a roupa num pingo, a Hélia percorreu o café deslumbrada. Pareceu-me que ia dançar. O empregado de mesa ia no seu encalço, mas era difícil escolher um lugar, tanta era a euforia. Pedida uma bebida quente, a Hélia protestou contra o preço invulgarmente alto dos bolinhos secos. Não havia mais nada para comer, o pão esgotara. Ficámos pelas bebidas. Passados minutos, o gerente do café presenteou-nos com um prato de bolinhos. Uma oferta da casa.
Deverá ter suposto – e acertaria – que éramos uns pobres escritores a viver um sonho qualquer, uma memória literária que ali está guardada, uma coisa de algum modo sagrada. Riu-se. Por momentos, os seus olhos pareceram felizes. 

Sem comentários:

Enviar um comentário