• O que mais me assusta
é este constante roçadilho de corpos hostis e de espíritos opiniosos,
intransigentes, inconciliáveis, mas no fundo pueris, que entre nós é o chamado
convívio.
• «Ah, que beleza a
destes primitivos ou naturais!», brada uma excursionista recém-chegada das
ilhas do mar de Caribe (que
nós, servilmente afrancesados, chamamos «as Caraíbas»). «Mas, minha boa amiga,
pois então ainda se não deu conta de que eles são professional natives – indígenas profissionais – que vivem à custa
dos turistas pacóvios, e em especial das americanas em mal de amor?»
• NEUTRO?! De modo algum!
Muitíssimo do Contra! Do Contra-Tudo-e-Todos, Gregos e Troianos! Homem só da
vigilante oposição do culto da verdade – doa a quem doer! A começar por ele
próprio!
• «O meu erro», diz este
idealista arrependido: «Só tarde me ter dado Conta de que vivia e lutava entre (e
a favor!) de videirinhos, oportunistas, hipócritas – e burros! De todos os que
aderem a um só ideal: o Emprego!»
• Eu escolhi o
anonimato, a obscuridade, a modéstia do viver, a humildade (que não deves
confundir com a humilhação!) –, e um orgulho paradoxal, mais ardente que o sol
de Julho, no dizer do poeta. Tudo isso, junto, me assegurou a verdadeira
liberdade, que é a independência pessoal. Cujo preço porém é sempre
exorbitante!
• «Não há esquerdas nem direitas!
São mitos!», brada o Mestre ilustre, para quem a «questão de regime» também não
tem importância.
«Mas, Mestre: o
senhor acredita no Céu e no Inferno?»
«Nem a
brincar!»
«Porque são
mitos também! E, no entanto, têm dado frutos históricos, políticos, éticos e
sociais de incalculável alcance! Os mitos são realidades imponderáveis, tão
eficazes como as doutrinas, as ideologias, as demonstrações pelo absurdo, e as
outras realidades… espirituais!»
«O mito é o nada que é tudo.» F. Pessoa.
• O amor das mulheres
dava-lhe tais contrariedades, ciúmes, tormentos, conflitos e perdas de tempo,
que ele chegou a preferir (embora com muita pena) que elas o deixassem
definitivamente em paz, para poder consagrar-se ao seu trabalho. Bom, com uma
pequena interrupção ocasional, de longe em longe, dizia, para aliviar!
• As teorias futuristas
e cubistas de «dinamismo» – decomposição de movimentos ou de objectos, como em Nu Descendo a Escada de Marcel Duchamp, ou o Cão à Trela de Bolla – falharam por
completo: deram imagens curiosas, de multiplicidade, mas tão imóveis como
inutilmente complicadas. Aliás, a Arte – a obra de Arte – não exprime, não
traduz, não representa, imita ou interpreta senão o que é ela própria. Além de
que cada objecto (paisagem, pessoa, seja o que for) pode ter mil diversas
«representações», conforme o estilo, o gesto, a hora, a luz, o meio empregado,
a disposição do artista ou do sujeito, etc. O objecto da Arte é o objecto de
Arte.
• Os povos, como os
indivíduos, carregam o peso dos seus erros passados. O mal é que, uns como os
outros, nem sempre o sabem fazer alegremente, ou, pelo menos, com equanimidade.
• Ainda foi no tempo
distante do liceu. Diz-me o X., confidendaI: «Se estou apaixonado, morro; se o
não estou… não vivo! Que te parece isto?» «Parece-me Camões!»
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