Chaves, 4 de Setembro de 1980 – Bem gostava de o ouvir com
outros ouvidos e acreditar nas suas apreciações generosas. Mas não.
Infelizmente, em matéria literária, ninguém me pode dar segurança. Insegurança,
sim. Agora tirar-me deste inferno em que me deixa cada obra editada, só a
morte. A publicação de um livro é um jogo em que o autor se arrisca eternamente
numa roleta diabólica, sem nunca chegar a saber se ganhou ou perdeu. E como
precisamente desafio neste momento, mais uma vez, os azares do prelo, é já esse
sentimento de réu em perpétuo julgado que me dilacera. Cada palavra propícia
que eventualmente chega até mim, em vez de consolo, dá-me a impressão de ficar
com a sorte agravada. À mercê do futuro e empenhado ao presente.
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