Perdão
para Darwin?
Uma boa notícia, dirão os leitores ingénuos, supondo que,
depois de tantos desenganos, ainda os haja por aí. A Igreja Anglicana, essa versão britânica de um catolicismo instituído, no
tempo de Henrique
VIII, como religião oficial do reino, anunciou
uma importante decisão: pedir perdão a Charles Darwin, agora que se comemoram duzentos anos do seu nascimento,
pelo mal com que o tratou após a publicação da Origem das
Espécies e, sobretudo, depois da Descendência
do Homem. Nada tenho contra os pedidos de
perdão que ocorrem quase todos os dias por uma razão ou outra, a não ser pôr em
dúvida a sua utilidade. Mesmo que Darwin estivesse vivo e disposto a mostrar-se
benevolente, dizendo «Sim, perdoo», a generosa palavra não poderia apagar um só
insulto, uma só calúnia, um só desprezo dos muitos que lhe caíram em cima. O
único que daqui tiraria benefício seria a Igreja Anglicana, que veria
aumentado, sem despesas, o seu capital de boa consciência. Ainda assim,
agradeça-se-lhe o arrependimento, mesmo tardio, que talvez estimule o papa Bento XVI, agora embarcado numa manobra diplomática em relação ao
laicismo, a pedir perdão a Galileu Galilei e a Giordano Bruno, em particular a este, cristãmente torturado, com muita
caridade, até à própria fogueira onde foi queimado.
Este pedido de perdão da Igreja Anglicana não vai agradar
nada aos criacionistas norte-americanos. Fingirão indiferença, mas é evidente
que se trata de uma contrariedade para os seus planos. Para aqueles
republicanos que, como a sua candidata à vice-presidência, arvoram a bandeira
dessa aberração pseudo-científica chamada criacionismo.
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