domingo, 11 de setembro de 2011

Jesus de Nazaré

Profeta e predicador judeu itinerante e carismático, morto por volta do ano 30 da era cristã no seguimento de um processo e da sua condenação à morte, sentença pronunciada por Pôncio Pilatos, prefeito romano.

Jesus era um judeu piedoso, predicador itinerante pela Galileia. Nascido em Belém, na Judeia (ou, segundo outras fontes, em Nazaré, na Galileia), pertencia, de acordo com os Evangelhos, a uma família hebraica descendente do rei David. Profundamente integrado no Judaísmo palestino, teve durante trinta anos uma existência anónima no pequeno burgo de Nazaré. Durante os três últimos anos da sua vida, afastou-se da família e da sua aldeia para se consagrar à prédica itinerante em companhia de um grupo de discípulos que ele próprio escolhera, vivendo numa pobreza radical e na castidade (celibato). O «evangelho» que ele anunciava aos seus conterrâneos era uma mensagem de salvação para conquistar o mal, de libertação em relação ao pecado, e de amor pelo Pai celestial e pelo resto dos homens. A realização do Reino de Deus estava iminente: por isso era necessário mudar de vida radicalmente, para o Homem não se encontrar desprevenido no momento do fim e consequentemente do Juízo final. A sua mensagem inseria-se na grande tradição profética, e muitos judeus consideraram-no um profeta e o próprio Elias ressuscitado, o profeta esperado no fim dos tempos. Acções extraordinárias, como curas e exorcismos, acompanhavam as suas pregações para confirmar a sua mensagem. Os seus – e talvez ele próprio – acreditaram que era o Messias restaurador do antigo reino de Israel prometido por Deus. As autoridades políticas judias e romanas julgaram a sua acção perigosa e subversiva. Por isso foi detido e condenado ao suplício da cruz.

Fontes
Os nossos conhecimentos sobre a vida de Jesus baseiam-se em fontes cristãs, principalmente sobre os quatro Evangelhos canónicos (para muitos, os Apócrifos são tardios e derivam das lendas). Paulo, o testemunho mais antigo nada diz acerca de Jesus. As fontes externas reduzem-se a breves indicações datadas de começos do século II e fornecidas por Tácito (55-117), nos seus Anais (XV,  44), por Plínio o Jovem (61-113), nas suas Cartas (X, 96), e por Suetónio (70-126), na sua Vida de Cláudio (XXV). Entre as fontes judaicas destaca-se o testemunho de Flávio Josefo (Antiguidades judaicas, XVIII, 63-64, contudo, sabemos tratar-se de uma interpolação devida a um autor cristão.

Este ícone representa a Natividade de Jesus nas ladeiras de uma montanha sagrada, que é escalada pelos anjos. A Virgem Maria encontra-se deitada como uma parturiente. O Menino Jesus está envolvido num trapo como um sudário de um morto, e está deitado num berço-caixão. Em baixo, à esquerda, José é tentado por um demónio-pastor, enquanto, à direita, Salomé e Eva encarregam-se de dar banho ao bebé. A Virgem vigia sobre eles, que são o símbolo da Humanidade propensa ao pecado.

Os textos apócrifos, dos Evangelhos da infância ao Evangelho de Tiago, são ricos em detalhes sobre o nascimento e a infância de Jesus. Esta literatura popular, que gozou de enorme sucesso, e da qual a iconografia cristã extraiu durante séculos matéria de representação, procurou dar resposta à curiosidade que envolvia os crentes acerca do nascimento e infância do Salvador e que de modo algum era satisfeita pelos Evangelhos canónicos.

O número, a identidade, a origem e as motivações dos Reis Magos, vindos do Oriente a Belém para adorar Jesus (Mateus, II, 1-12) foram desde cedo objecto de múltiplas interpretações exegéticas por autores cristãos que os apresentavam como a ocorrência de eventos anunciados pelo Antigo Testamento.

A adoração dos Reis Magos foi interpretada como o reconhecimento da divindade de Jesus. Os presentes por eles oferecidos têm um valor simbólico cristológico: o ouro, o incenso e a mirra apontam respectivamente para a realeza, para a divindade e para a condição mortal (a mirra era utilizada para embalsamar os cadáveres) de Cristo.

Os Reis Magos são relacionados com as três personagens (símbolos, para os cristãos, da Trindade) que conversam com Isaac no livro do Génesis (XXVI, 27-29). A opinião mais generalizada é que eles eram persas, segundo a origem antiga dos magoi. Outros fazem-nos vir da Arábia. A hipótese de terem vindo da Caldeia, avançada pelos Pais da Igreja, deriva da relação que os Reis Magos estabeleceram entre o aparecimento de uma estrela e o presságio do nascimento de Jesus: os Caldeus eram efectivamente conhecidos pela sua arte divinatória baseada na observação do céu estrelado.

No Cristianismo, a circuncisão foi substituída velo baptismo, embora se conserve entre alguns sectores judeo-cristãos, como os Ebionitas, fiéis às antigas práticas. Contudo, os profetas tinham já aludido à circuncisão do coração (Jeremias, IV, 4). Alguns Pais da Igreja retomaram esta concepção na sua polémica contra os Judeus, que permaneciam amarrados – por fidelidade à antiga aliança – a uma visão carnal e material da relação com Deus.

A ablação ritual do prepúcio do recém-nascido, praticada na Antiguidade por diferentes povos e tribos, chegou a ser para os Judeus o sinal distintivo da aliança, da pertença a Deus e ao povo eleito. A circuncisão de Jesus (Lucas, II, 2I) e, ainda antes, a do precursor, João Baptista (Lucas, 1,59), foram cumpridas seguindo os costumes típicos do Judaísmo da época, para realçar a plena partilha dos valores judaicos de Jesus.

A prática do baptismo como acto consistia na imersão em água ou no facto de ser imerso em água. O ritual estava muito estendido entre numerosos grupos judeus e não judeus na época de Jesus. Por exemplo, em Qumram estavam em uso diversas formas de ablução ritual quotidiana; respondiam a exigências de pureza ritual sentidas profundamente como tais no Judaísmo. O baptismo de João-Baptista inscreve-se nestas tradições.
O baptismo cristão distingue-se destes ritos repetidos pelo seu carácter único. Trata-se aqui de um rito de entrada numa nova comunidade uma única vez na vida. Significa a purificação da mancha do pecado e a santificação do crente. Noutros tempos remotos, era praticado apenas na idade adulta, às vezes na altura da morte, após uma cuidadosa preparação do futuro baptizado. Aquando da transformação do Cristianismo em religião de Estado, aparece o pedobaptismo, doutrina que reconhece a legitimidade do baptismo das crianças.

O baptismo de Cristo, como é descrito nos Evangelhos canónicos, inaugura a sua actividade salvadora. A cena reveste-se ainda de uma vocação profética. Em geral, o baptismo de Jesus foi considerado pela tradição cristã como uma manifestação da sua divindade e um símbolo da Trindade.

Prodígios extraordinários testemunham a verdade do anúncio de Jesus e a iminência do Reino de Deus. O poder que o Pai conferiu ao Filho no momento do baptismo traduz-se numa série de curas e de exorcismos, relacionados entre eles pelo facto de Jesus libertar, ao mesmo tempo, o corpo e a alma da influência do demónio, que é a causa de doença e sintoma de pecado.

O modelo destes prodígios é fornecido pelas intervenções especiais de Deus em favor do género humano – e especialmente em favor de Israel – de que fala o Antigo Testamento. Esta acção salvadora manifesta-se, sobretudo, durante o Êxodo (saída dos Hebreus para fora do Egipto). Nalguns casos, esta vontade de salvação torna-se realidade através de «operadores de milagres» como Moisés, Josué, Elias e Eliseu.
Para toda esta tradição, Jesus ergue-se como um agente de Deus, investido do poder do seu Espírito. A ressurreição de Lázaro, por exemplo, faz-nos lembrar aquela do filho da viúva levada a cabo por Elias (I Reis, XVII, 17).

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