Jesus era um judeu piedoso,
predicador itinerante pela Galileia.
Nascido em Belém,
na Judeia (ou, segundo outras
fontes, em Nazaré, na
Galileia), pertencia, de acordo com os Evangelhos, a uma família
hebraica descendente do rei David.
Profundamente integrado no Judaísmo
palestino, teve durante trinta anos uma existência anónima no pequeno burgo de
Nazaré. Durante os três últimos anos da sua vida, afastou-se da família e da
sua aldeia para se consagrar à prédica itinerante em companhia de um grupo de
discípulos que ele próprio escolhera, vivendo numa pobreza radical e na castidade (celibato). O «evangelho» que
ele anunciava aos seus conterrâneos era uma mensagem de salvação para
conquistar o mal, de libertação em relação ao pecado, e de amor pelo Pai celestial e pelo resto dos
homens. A realização do Reino
de Deus estava iminente: por isso era necessário mudar de vida
radicalmente, para o Homem não
se encontrar desprevenido no momento do fim e consequentemente do Juízo final. A sua
mensagem inseria-se na grande tradição profética, e muitos judeus
consideraram-no um profeta e o próprio Elias ressuscitado, o profeta
esperado no fim dos tempos. Acções extraordinárias, como curas e exorcismos,
acompanhavam as suas pregações para confirmar a sua mensagem. Os seus – e
talvez ele próprio – acreditaram que era o Messias restaurador do antigo
reino de Israel prometido por
Deus.
As autoridades políticas judias e romanas julgaram a sua acção perigosa e
subversiva. Por isso foi detido e condenado ao suplício da cruz.
Fontes
Os nossos
conhecimentos sobre a vida de Jesus baseiam-se em fontes cristãs, principalmente
sobre os quatro Evangelhos canónicos
(para muitos, os Apócrifos
são tardios e derivam das lendas). Paulo, o testemunho mais
antigo nada diz acerca de Jesus. As fontes externas reduzem-se a breves
indicações datadas de começos do século II e fornecidas por Tácito
(55-117), nos seus Anais (XV, 44), por Plínio
o Jovem (61-113), nas suas Cartas (X,
96), e por Suetónio
(70-126), na sua Vida de Cláudio (XXV).
Entre as fontes judaicas destaca-se o testemunho de Flávio
Josefo (Antiguidades judaicas, XVIII, 63-64,
contudo, sabemos tratar-se de uma interpolação devida a um autor cristão.
Este ícone representa a Natividade de Jesus nas
ladeiras de uma montanha sagrada, que
é escalada pelos anjos. A Virgem Maria encontra-se deitada como uma parturiente. O Menino Jesus está
envolvido num trapo como um sudário de um morto, e está deitado num berço-caixão. Em baixo, à esquerda, José é tentado por um
demónio-pastor, enquanto, à direita, Salomé e Eva encarregam-se de dar banho
ao bebé. A Virgem vigia sobre eles, que são o símbolo da Humanidade propensa ao
pecado.
Os textos apócrifos, dos Evangelhos
da infância ao Evangelho de Tiago, são ricos em detalhes sobre o nascimento e a infância de Jesus. Esta
literatura popular, que gozou de
enorme sucesso, e da qual a iconografia cristã extraiu durante séculos matéria
de representação, procurou dar resposta à curiosidade que envolvia os crentes
acerca do nascimento e infância do Salvador e que de modo algum era satisfeita
pelos Evangelhos canónicos.
O número, a identidade, a origem e as
motivações dos Reis Magos, vindos do Oriente a Belém para adorar Jesus (Mateus, II, 1-12) foram desde cedo objecto de
múltiplas interpretações exegéticas por autores cristãos que os apresentavam
como a ocorrência de eventos anunciados pelo Antigo Testamento.
A adoração dos Reis Magos foi interpretada
como o reconhecimento da divindade de Jesus. Os presentes por eles oferecidos têm um valor simbólico cristológico: o ouro, o incenso e a mirra apontam respectivamente para a realeza,
para a divindade e para a condição mortal (a mirra era utilizada para
embalsamar os cadáveres) de Cristo.
Os Reis Magos são relacionados com as três
personagens (símbolos, para os cristãos, da Trindade) que conversam com Isaac no livro do Génesis (XXVI, 27-29). A opinião
mais generalizada é que eles eram persas, segundo a origem antiga dos magoi. Outros
fazem-nos vir da Arábia. A hipótese de terem vindo
da Caldeia, avançada pelos Pais da Igreja, deriva da
relação que os Reis Magos estabeleceram entre o aparecimento de uma estrela e o
presságio do nascimento de Jesus: os Caldeus eram efectivamente conhecidos pela sua arte
divinatória baseada na observação do céu estrelado.
No Cristianismo, a circuncisão foi
substituída velo baptismo, embora se conserve entre alguns sectores judeo-cristãos, como os Ebionitas, fiéis às
antigas práticas. Contudo, os profetas tinham já
aludido à circuncisão do coração (Jeremias, IV, 4). Alguns Pais da Igreja retomaram esta concepção
na sua polémica contra os Judeus, que permaneciam amarrados –
por fidelidade à antiga aliança – a uma visão carnal e material da relação com
Deus.
A ablação ritual do prepúcio do
recém-nascido, praticada na Antiguidade por
diferentes povos e tribos, chegou a ser para os Judeus o sinal distintivo da
aliança, da pertença a Deus e ao povo eleito. A circuncisão de Jesus (Lucas, II, 2I) e, ainda antes, a do precursor, João Baptista (Lucas,
1,59), foram cumpridas seguindo os
costumes típicos do Judaísmo da época, para realçar a plena partilha dos valores judaicos de Jesus.
A prática do baptismo como acto consistia na
imersão em água ou no facto de ser imerso em água. O ritual estava muito estendido
entre numerosos grupos judeus e não judeus na época de Jesus. Por exemplo, em Qumram estavam em uso diversas
formas de ablução
ritual quotidiana; respondiam a exigências de pureza ritual sentidas profundamente
como tais no Judaísmo. O baptismo de João-Baptista inscreve-se nestas
tradições.
O baptismo cristão distingue-se destes ritos
repetidos pelo seu carácter único. Trata-se aqui de um rito de entrada numa
nova comunidade uma única vez na vida. Significa a purificação da mancha do pecado
e a santificação do crente. Noutros tempos remotos, era praticado apenas na
idade adulta, às vezes na altura da morte, após uma cuidadosa preparação do futuro baptizado. Aquando da
transformação do Cristianismo em religião de Estado, aparece o pedobaptismo,
doutrina que reconhece a legitimidade do baptismo das crianças.
O baptismo de Cristo, como é descrito nos Evangelhos canónicos, inaugura a sua actividade salvadora. A cena reveste-se ainda de uma vocação profética. Em geral, o baptismo de Jesus foi considerado pela
tradição cristã como uma manifestação
da sua divindade e um símbolo da Trindade.
Prodígios extraordinários testemunham a verdade
do anúncio de Jesus e a iminência do Reino de Deus. O poder que o Pai conferiu
ao Filho no momento do baptismo traduz-se numa série de curas e de exorcismos, relacionados
entre eles pelo facto de Jesus libertar, ao mesmo tempo, o corpo e a alma da influência
do demónio, que é a
causa de doença e
sintoma de pecado.
O modelo destes prodígios é fornecido pelas
intervenções especiais de Deus em favor do género humano – e especialmente em
favor de Israel – de que fala
o Antigo Testamento. Esta acção salvadora manifesta-se, sobretudo, durante o Êxodo (saída dos Hebreus para fora do Egipto). Nalguns casos, esta
vontade de salvação torna-se realidade através de «operadores de milagres» como
Moisés, Josué, Elias e Eliseu.
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