E agora o que é que vai escrever? E uma
pergunta que já me começam a fazer, depois de concluído Em Nome da Terra.
Porque ma fazem? Deve ser por deferência, amabilidade. Ou apenas por formalismo
como me perguntam como estou. Ao protocolo desta pergunta não respondo como o
outro quando disse estou bem graças a Deus, o pior é este reumatismo que me não
deixa mexer. E digo de caras: estou à rasca. Se realmente estou. Mas à pergunta
sobre o que escrevo sinto-me sempre em mal-estar. Que é que tem de público e
protocolar o que é da minha intimidade? Não sei porque me não perguntam por
exemplo: e agora que casaco vai vestir, depois de deitar esse para o cesto da
roupa suja? Ou: quando é que temos fato novo? E todavia seria muito mais
plausível. Mas ninguém mo pergunta. E muito menos qual a cor das cuecas que
trago. Como ninguém pergunta a ninguém «quando é que temos outro filho.» O acto
de escrever é tão melindroso e recatado e estritamente pessoal como justamente fazer
um filho. Nascido o filho e feito gente, ele é do domínio público e está assim
sujeito a que o julguem uma criancinha adorável ou mais tarde um sacanóide. Mas
o fazê-lo não é decente que seja também do domínio público. Não se pergunta
quando temos um novo livro ou se se está a escrevê-lo como se não pergunta
quando temos um novo livro ou quando se pensa fazê-lo. Eu por mim é o que
sinto. Mas é possível que esteja a asnear – que é, aliás, a minha constante
inclinação.
VF
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