Crítica
Diz José Mário Silva na
crítica a O Caderno, publicada no «Actual»
do último Expresso que não sou um
verdadeiro bloguer. Di-lo e demonstra-o: não faço links, não dialogo
directamente com os leitores, não interajo com a restante blogosfera. Já o
sabia eu, mas a partir de agora, se mo perguntarem, tomarei como minhas as
razões de José Mário Silva e arrumarei definitivamente o assunto. De todo o
modo, não venho queixar-me de uma crítica que é bem-educada, pertinente,
elucidativa. Dois pontos, porém, me levam a sair à estacada, quebrando, pela
primeira vez, uma decisão que até hoje foi por mim cumprida à risca, a de não
responder nem sequer comentar qualquer apreciação feita ao meu trabalho. O
primeiro ponto tem que ver com um suposto simplismo das análises dos problemas
que me caracterizaria. Poderia responder que o espaço não dá para mais, mas quem,
de verdade, não dá para mais sou eu próprio, uma vez que me faltam as
habilitações indispensáveis a um analista profundo, como os da Escola de Chicago,
que, apesar de tão dotados, deram com os burrinhos na água, pois nunca passou
pelos seus privilegiados cérebros a hipótese de uma crise arrasadora que qualquer
análise simplista seria capacíssima de prever. O outro ponto é mais sério e
justifica, só por si, esta em alguns aspectos inopinada intervenção. Refiro-me
aos meus alegados excessos de indignação. De uma pessoa inteligente como José
Mário Silva esperaria eu tudo menos isto. A minha pergunta será portanto tão
simples como as minhas análises: há limites para a indignação? E mais: como se
pode falar de excessos de indignação num país em que precisamente, com as
consequências que estão à vista, ela vem faltando? Meu caro José Mário, pense
nisto e ilustre-me com a sua opinião. Por favor.
José Saramago, O CADERNO
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