Académico
Que se me
perdoe a vaidade de o vir anunciar aqui: sou académico correspondente da Academia
Brasileira de Letras na vaga deixada pelo falecimento do escritor francês Maurice Druon, de quem
recordo haver lido, há incontáveis anos, em edição portuguesa da Arcádia se a
memória não me falha, um romance intitulado As grandes famílias,
na tradição da melhor ficção novecentista. Deu-me a agradável notícia Alberto da Costa e
Silva, poeta de excelência, também embaixador, que o foi em vários países,
entre os quais Portugal, historiador competente de temas africanos, leia, quem
o ignore, por exemplo, essa obra notabilíssima que é A
enxada e a lança: a África antes dos portugueses. Eis-me portanto
académico no país que mais amo depois do meu, o Brasil. É como estar em casa,
com a diferença, nada despicienda, do afecto de que nos rodeiam, sentimento que
a pátria às vezes se esquece de manifestar, como se ter-nos feito nascer em Lisboa ou na Azinhaga já fosse honra
suficiente. Em Outubro lá irei, a apresentar um novo livro e a sentar-me à
sombra da estátua de Machado
de Assis. E ainda dizem que a vida não tem coisas boas…
José Saramago, O CADERNO
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