- Ao leitor ou crítico inexorável, que o massacrava com as suas sucessivas cartas, ele respondeu laconicamente: «Que o primeiro dever de um escritor era escrever o menos possível.» (d.p. 6 de Julho de 1976)
- O homem só anda quase sempre mal acompanhado; inversamente, o homem acompanhado sente-se quase sempre sozinho. (d.p. 10 de Agosto de 1976)
- A Razão é com frequência, apenas, a máscara sob a qual o adulto disfarça ou esconde (camufla!) o demente ou pré-demente – a criança – que nele persiste. E lhe serve para exprimir o oposto do que sente, pensa, ou pretende…, e a que chama orgulhosamente «ideal»! (d.p. 31 de Agosto de 1976)
- «Por quem o Sino Dobra» – e não «os sinos»! – reza o verso de Dryden que Hemingway adoptou para título do seu romance: For Whom the Bell Tolls. Falando o poeta de um só morto, e não de um chefe de Estado por exemplo, é lógico que só o sino da freguesia se desse ao trabalho de dobrar por ele, quando foi desta para melhor. Quanto a Fiesta (na edição inglesa e várias traduções), o título original do romance The Sun also Rises (também o Sol nasce, ou se levanta) é uma frase da Bíblia que a nossa vil tradução da Vulgata reduziu a «nasce o Sol»… Se em português se adoptou «Festa», foi tolice ou ignorância, pois devia ser pelo menos «Festa Brava», visto girar a trama do romance em volta da famosa feria e cerimónia taurina de Pamplona. Que o autor celebrizou! Mas quem pensa agora em tais ninharias? (d.p. 14 de Setembro de 1976)
- Todo o crítico se arma (por sua alta recreação) em medida, padrão, ou paradigma de todas as coisas literárias: pressupõe-se um privilégio, uma superioridade, uma autoridade que ninguém lhe conferiu, nem podia: é um auto-eleito. Ao julgar os outros afirma-se infalível, qual o Papa ou mesmo Deus. E a palavra final. O caso é que ele não tem mais autoridade (como qualquer escritor) do que a que lhe é conferida por quem o lê. (d.p. 12 de Outubro de 1976)
sábado, 29 de janeiro de 2011
“Tablóides” - 1960
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