A SENHORA DUQUESA DE BRABANTE
Gomes Leal
Tem um leque de plumas gloriosas
Na sua mão macia e cintilante
De anéis de pedras finas, preciosa,
A senhora duquesa de Brabante.
Numa cadeira de espaldar doirado
Escuta os galanteios dos barões.
É noite. E sob o azul morno e calado
Concebem os jasmins e os corações.
Recorda o senhor bispo acções passadas,
Falam damas de jóias e cetins
Tratam barões de festas e caçadas
À moda goda, aos toques de clarins.
Mas a duquesa é triste.
Oculta mágoa Vela seu rosto de um solene véu.
Ao luar, sob os tanques, chora a água.
Cantando, rouxinóis, Lembram o céu.
Dizem as lendas que satã,
Vestido de uma armadura Feita de um brilhante,
Ousou falar do seu amor florido
À senhora duquesa de Brabante.
Dizem que o viram ao luar, nas águas,
Mais loiro do que o sol, marmóreo e lindo,
Tirar duma viola estranhas mágoas,
Pela noite em que os cravos vem abrindo
Dizem mais !
Que na seda das varetas
Do seu leque ducal de mil matizes,
Satã cantara as suas tranças pretas
E os seus olhos mais fundos que raízes.
Mas a duquesa é triste!
Oculta mágoa
Vela seu rosto de um solene véu.
Ao luar, sob os tanques, chora a água.
Cantando, rouxinóis,
Lembram o céu.
O que é certo é que a pálida senhora,
A transcendente dama de Brabante,
Tem um filho horroroso!
E de quem cora o pai, no escuro,
Passeando errante.
É um filho horroroso e jamais visto,
Raquítico, disforme, excepcional.
Todo disforme, excêntrico, malquisto,
Pêlos de fera e uivos de animal.
Parece irmão dos cerdos e dos ursos,
Aborto e horror da brava natureza!
Em vão tentam barões, com mil discursos,
Desenrugar a fronte da duquesa…
Sempre a duquesa é triste!
Oculta mágoa vela seu rosto
De um solene véu.
Ao luar, sob os tanques,
Chora a água.
Cantando, rouxinóis lembram o céu.
Ora o monstro morreu!
Pelas arcadas do palácio
Retinem festas, hinos,
Riem nobres vilões pelas estradas.
O próprio pai se ri, ouvindo os sinos.
Riem vilões trigueiros das charruas,
Riem-se monges pelo claustro antigo,
Riem-se nobres e peões nas ruas
Riem-se padres junto ao seu jazigo
Passeiam velhas damas no terraço,
Nos pátios os truões riem, também.
Passeia o duque, rindo, pelos paços,
Só chora o filho, em alto choro, a mãe.
Só! Sobre o esquife do disforme morto
Chora, sem trégua, a mísera mulher.
Chama os nomes mais ternos ao aborto.
Mesmo assim feio, a triste mãe o quer.
Só ela chora pelo morto.
A mágoa lhe arranca gritos
Que ninguém mais deu!
Ao luar, sob os tanques,
Chora a água.
Cantando, rouxinóis, lembram o céu!
Gomes Leal
Tem um leque de plumas gloriosas
Na sua mão macia e cintilante
De anéis de pedras finas, preciosa,
A senhora duquesa de Brabante.
Numa cadeira de espaldar doirado
Escuta os galanteios dos barões.
É noite. E sob o azul morno e calado
Concebem os jasmins e os corações.
Recorda o senhor bispo acções passadas,
Falam damas de jóias e cetins
Tratam barões de festas e caçadas
À moda goda, aos toques de clarins.
Mas a duquesa é triste.
Oculta mágoa Vela seu rosto de um solene véu.
Ao luar, sob os tanques, chora a água.
Cantando, rouxinóis, Lembram o céu.
Dizem as lendas que satã,
Vestido de uma armadura Feita de um brilhante,
Ousou falar do seu amor florido
À senhora duquesa de Brabante.
Dizem que o viram ao luar, nas águas,
Mais loiro do que o sol, marmóreo e lindo,
Tirar duma viola estranhas mágoas,
Pela noite em que os cravos vem abrindo
Dizem mais !
Que na seda das varetas
Do seu leque ducal de mil matizes,
Satã cantara as suas tranças pretas
E os seus olhos mais fundos que raízes.
Mas a duquesa é triste!
Oculta mágoa
Vela seu rosto de um solene véu.
Ao luar, sob os tanques, chora a água.
Cantando, rouxinóis,
Lembram o céu.
O que é certo é que a pálida senhora,
A transcendente dama de Brabante,
Tem um filho horroroso!
E de quem cora o pai, no escuro,
Passeando errante.
É um filho horroroso e jamais visto,
Raquítico, disforme, excepcional.
Todo disforme, excêntrico, malquisto,
Pêlos de fera e uivos de animal.
Parece irmão dos cerdos e dos ursos,
Aborto e horror da brava natureza!
Em vão tentam barões, com mil discursos,
Desenrugar a fronte da duquesa…
Sempre a duquesa é triste!
Oculta mágoa vela seu rosto
De um solene véu.
Ao luar, sob os tanques,
Chora a água.
Cantando, rouxinóis lembram o céu.
Ora o monstro morreu!
Pelas arcadas do palácio
Retinem festas, hinos,
Riem nobres vilões pelas estradas.
O próprio pai se ri, ouvindo os sinos.
Riem vilões trigueiros das charruas,
Riem-se monges pelo claustro antigo,
Riem-se nobres e peões nas ruas
Riem-se padres junto ao seu jazigo
Passeiam velhas damas no terraço,
Nos pátios os truões riem, também.
Passeia o duque, rindo, pelos paços,
Só chora o filho, em alto choro, a mãe.
Só! Sobre o esquife do disforme morto
Chora, sem trégua, a mísera mulher.
Chama os nomes mais ternos ao aborto.
Mesmo assim feio, a triste mãe o quer.
Só ela chora pelo morto.
A mágoa lhe arranca gritos
Que ninguém mais deu!
Ao luar, sob os tanques,
Chora a água.
Cantando, rouxinóis, lembram o céu!
Excelente que tenhas aqui colocado um grande poema de um autor que anda um pouco esquecido.
ResponderEliminarAlípio
Em passeio pela a Net, descobri-o. Gomes Leal foi um eterno esquecido. Ainda bem que o lembrou. Desde que me conheço que o conheço bem. Depois de ser mãe, tomou para mim, uma dimensão enorme. E Villaret é Villaret.
ResponderEliminarParabéns pela ideia de aqui o pôr. Chorei, como sempre.
Maria