De Sócrates a K ou a memória revivida. O processo no seu fim.
Lá no alto, os dois batentes duma janela escancararam-se como um jorro de luz; um ser humano – a distância e a altura faziam-no fraco e magro - surgiu à janela, curvou-se bruscamente para fora e atirou os braços ainda mais para a frente. Quem era? Um amigo? Uma boa alma? Um participante? Alguém que queria ajudar? Era um só? Eram todos? Havia ainda auxílio? Havia ainda objecções por levantar? Havia-as com certeza. A lógica é na verdade inabalável, mas não resiste a um homem que quer viver. Onde estava o juiz que ele nunca tinha visto? Onde estava o alto tribunal que ele nunca alcançara? Levantou a mão e estendeu os dedos.
Mas um dos homens pôs-lhe as mãos no pescoço, enquanto o outro lhe espetava profundamente a faca no coração e aí a rodava duas vezes. Moribundo, K. viu ainda os dois homens muito perto do seu rosto, com as faces quase coladas, a observarem o desfecho.
- Como um cão! - disse.
ERA COMO SE A VERGONHA DEVESSE SOBREVIVER-LHE.
P.B.
# posto por Rato da Costa @ 4.1.04
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