Nota introdutória
Desde 1999 que colaboro com a revista de bordo das Linhas Aéreas de Moçambique. Neste livro estão reunidos alguns dos textos que publiquei nessa revista, a Índico. São textos ligeiros, cujo destinatário não é exactamente um leitor «típico», mas um passageiro que pretende vencer o tempo e, tantas vezes, o medo.
Nas revistas de bordo sucede quase sempre o mesmo: passamos os olhos pela página, em busca de uma simples distracção, de modo a que nos desviemos do confronto com a janela, afastados da heresia que é contemplar o céu a partir dos céus. Por outro lado, a revista de bordo é uma hospedeira em página impressa, um porteiro de nações, um massagista de almas atingidas por desfasamento de fusos horários. Estas eram as balizas, os estranhos limites às palavras voadoras.
Durante todos estes anos de colaboração, contudo, o meu desejo foi o mesmo de todos os outros fazedores da Índico: fazer com que o meu país voasse pelos dedos do viajante, numa visita às múltiplas identidades que coexistem numa única nação. Esse era o serviço daquela escrita.
Agora, soltos desse contexto, a estes textos deve ser perdoado o terem tido uma função.
Acredito, no entanto, que estes contos e crónicas desobedeçam ao pecado original que marcou o seu nascimento. Espero que, no final, este livro dispense esta e qualquer outra explicação.
Mia Couto
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