Amanhã, no Semanário Grande Porto, será publicado este texto que João Baptista Vasconcelos Magalhães escreveu:
A festa de Natal é uma das mais belas e fraternais celebrações da humanidade: é a festa dos afectos, do encontro com a saudade da família, dos amigos e até dos locais por onde crescemos, amamos e nos tornamos homens.
Tem origem na distante Idade Média, por volta do séc. III. O dia terá sido fixado pelo Papa Júlio I, contrapondo a celebração do nascimento de Jesus à festa pagã do solstício de Inverno, a festa do deus Mitra. Esta divindade, de origem persa, era muito popular. Acreditava-se que se tinha aliado ao Sol para obter o calor e a luz que faziam com que as raízes das plantas rompessem a terra e florissem.
É um pouco o que representa o Natal. Conta a Bíblia que um anjo anunciou a Maria que daria à luz Jesus, o filho de Deus, que viria ao mundo para salvar os homens. Tal como a terra tem de proporcionar boas condições para permitir que a semente floresça, a Mãe de Jesus teria de garantir as condições necessárias ao crescimento do seu Menino, para que Ele fosse, como refere a Bíblia, exemplo, caminho e vida de um mundo mais justo e mais humano. E este horizonte de sentido é vivido em cada Natal como um mistério insondável, pois, como dizia Leonardo Coimbra na sua obra “Jesus”: «Ele sabe esperar, fazer-se oculto, pequeno, humilde, companheiro e amigo, para dar às almas o exemplo da sua vida, o calor das suas certezas, o infinito afago do seu coração transbordante».
O Natal ganhou, assim, um significado de incomensurável riqueza. Associa-se à ideia de luz que dá esperança ao futuro, de mãe que sabe proteger os seus filhos, de espírito de solidariedade que vive da rede de afectos e de magnanimidade que nos torna humildes, generosos, autênticos e justos. E Natal é tudo isto, quando significa romagem à Terra que nos viu nascer, crescer e fazer amigos; quando nos abre aos valores da família, da solidariedade, da generosidade e da justiça; e quando nos faz magnânimos perante adversários e desprotegidos.
Vivemos uma época contrária ao espírito do Natal e essa é a nossa maior crise. Valoriza-se mais o dinheiro que o ser humano. Surgem bolsas de miséria no coração da abundância, o egoísmo cavou a indiferença pelo bem-comum e a hipocrisia, a arrogância e a venialidade moldaram o homem de sucesso do nosso tempo: o chico-esperto.
Precisamos de renovar o significado do Natal para reencontrar o rumo que humanize as nossas vidas, nos torne autênticos, faça luz sobre o nosso futuro colectivo e dê esperança aos mais desprotegidos, aos que vivem numa “miséria imerecida”.
São estes os nossos votos no dia de Natal.
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