O chefe de Estado reclamou ter feito o que é exigido a um Presidente e o fundador da AMI a considerou que foram cinco anos perdidos.
"A cada momento fiz sempre aquilo que se exige a um Presidente da República tendo em conta os seus poderes", afirmou Cavaco Silva, durante o primeiro debate televisivo em que participou para as eleições presidenciais de 23 de Janeiro.
Num debate em que os dois candidatos mantiveram sempre um registo mais ou menos sereno, coube a Fernando Nobre lançar as primeiras críticas, considerando que o primeiro mandato de Cavaco Silva em Belém correspondeu a "cinco anos perdidos em grande parte", com o país a assistir ao aumento do desemprego e o défice e o endividamento do país a crescer. Pois, acrescentou, apesar da Presidência da República não necessitar de um "perito em economia e finanças", cabe ao chefe de Estado fazer alertas sobre a situação, nomeadamente ao primeiro-ministro, enviar mensagens ao Parlamento, ou em última instância, falar aos portugueses.
Na resposta, Cavaco Silva recordou os poderes do Presidente da República, a quem "não cabe governar, nem legislar", garantindo ter feito tudo o que estava ao seu alcance ainda que de forma discreta, nomeadamente na promoção de consensos. A este propósito, o actual chefe de Estado recordou o seu "empenho muito forte e durante muito tempo" na aprovação do Orçamento do Estado para 2011. "Se não houvesse Orçamento a situação seria de descalabro económico", salientou Cavaco Silva.
Fernando Nobre replicou, então, e embora reconhecendo a necessidade de Portugal ter um Orçamento aprovado, que teria de ser um documento diferente. "Tinha de haver Orçamento, mas não este", frisou o candidato independente. "Pensa que eu gosto muito deste Orçamento?", questionou o próprio Cavaco Silva.
Ainda a propósito das críticas de Fernando Nobre à sua inacção, Cavaco Silva reconheceu não ter sido ouvido como gostaria "em algumas circunstâncias", porque "faltou uma certa humildade democrática para ouvir", mas sem especificar sobre que a que momentos se estava a referir.
Os dois candidatos coincidiram no desejo de que o FMI não venha a intervir em Portugal, com Fernando Nobre a prometer fazer "todas as resistências que puder" e Cavaco Silva a dizer que espera que o Governo desenvolva as acções necessárias.
Já no final, e tal como tinha feito no debate que o opôs ao candidato apoiado pelo PCP Francisco Lopes, Fernando Nobre voltou reclamar a sua condição de médico e fundador da AMI, lembrando o período em que esteve na primeira Guerra do Iraque. "Eu sou um patriota, disposto a dar a minha vida, a pôr-me na boca do lobo pelo país. Eu conheço o mundo", disse. Cavaco Silva respondeu apenas que apesar do "muito respeito" que nutre pela AMI, as missões que desenvolve "não têm nada que ver com política externa".
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