Ando a ler, de novo, os PROLEGÓMENOS – Crónicas de Barroso, do antigo e sempre amigo Bento da Cruz, e lembro-me sempre do amigo António Pires Loureiro.
Aí fica uma cópia dos primeiros Prolegómenos (pág. 44).
ANOS DO CORREIO DO PLANALTO
Correio do Planalto faz hoje anos. Recordo-me da alegria com que o vi nascer: balbuciante, ingénuo, sonhador — quixotesco. Dei-lhe a mão e disse-lhe:
— Vamos, paladino!
— Aonde?
— Endireitar o mundo.
— Parece-me mais fácil endireitar a sombra duma vara torta.
— Não me digas que, acabado de sair dos cueiros, já és lido em D. Frei Amador Arrais, padre Manuel Bernardes e Camilo Castelo Branco. Esses é que estavam convictos da impossibilidade de endireitar a sombra duma vara torta. Mas eu suplantei-os. Descobri a quadratura do círculo.
— Como assim?
— Endireita-se a vara e está o caso resolvido.
— Sabes quem me fazes lembrar?
— Arquimedes.
— D. Quixote de la Mancha.
— Não me digas que também conheces o engenioso hidalgo?
— Conheço e quero seguir-lhe o exemplo: auxiliar os fracos e combater os déspotas.
— Sozinho?
— Contigo.
— Queres então fazer de mim o teu Sancho Pança?
— Até os heróis precisam de comer. Portanto, vai tratando dos alforges.
— Avante, paladino!
Este diálogo tem vinte e tal anos. Vinte e tal anos de jornada e aventura. De aplausos e de pedradas. De alegrias e de tristezas. Vinte e tal anos de camaradagem.
Dos companheiros do primeiro dia, alguns foram ficando pelo caminho. Aqui os recordamos com saudade: António Loureiro, Justino Alves, Joaquim da Cruz.
Outros, talvez cansados de esgrimir contra moinhos de vento, embainharam a espada.
Também desses sentimos falta e saudade. Aqui lhe deixamos um apelo para que voltem. Nos ajudem a manter a chama acesa. Correio do Planalto já foi um clarão nas trevas. Hoje está reduzido a esta chamazinha no crepúsculo.
A pedir que lhe restituamos o brilho e a vitalidade de outros tempos.
A mim, barrosões de boa vontade! Ainda há muito obscurantismo e muita hipocrisia na nossa terra. A eles, como Santiago aos mouros!
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