sábado, 22 de junho de 2013

J. Gomes Ferreira: 22 de Junho [1966]

«Mesa quadrada» eventual no Martinho sobre a crítica literária – tal qual se pratica no actual momento português de labirinto e confusão.
Discutidores presentes: Augusto Abelaira, Carlos de Oliveira, Nikias, Pinheiro Torres e eu. Pretexto: as últimas opiniões de alguns «críticos» jovens das páginas literárias a respeito da Enseada Amena do Abelaira. («É um romance incompreensível!»(?) – afirmam alguns com desplante analfabeto.)
– Bom sinal para o Abelaira! – pensei eu.
Pelo seu lado o Nikias propôs que os críticos só pudessem opinar aos 35 anos, depois de devidamente psicanalisados. O Carlos, esse já se contentava com a exigência de um exame de 4.ª classe… Da outra 4.ª classe… E o Pinheiro Torres, de braços abertos, regia a habitual orquestra de fúria generosa…
Assiste-se de facto a uma inverosímil invasão de critiquelhos (sobretudo nas páginas dos jornais de província), espécie de beatniks cobertos de farrapos de cultura, adquirida ad hoc em livrecos mal traduzidos, e inúmeros piolhos que sugam aqui e ali a superfície dos problemas…
Que pretendem esses «críticos»? Por que combatem? Em nome de que movimento ou de que concepção de vida literária?
Ninguém sabe, pois não são neo-realistas, nem surrealistas, nem concretistas, nem experimentalistas, nem coisa nenhuma.
Críticos sem causa… Sem literatura nem causa… Decomposição… Bichos de queijo… 

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