quinta-feira, 20 de junho de 2013

20 de Junho [1966]

Hoje de tarde, no Tivoli, ouvi o Concerto para Piano N.º 1 do Fernando Lopes-Graça. Pianista: o suíço Georges Bernand. Orquestra da Emissora regida pelo director soviético Ivanov – espesso, cabeça leonina… – que, aliás, só depois de chegar a Lisboa, logrou ler a partitura à pressa.
Execução dolorosamente solfejada sem um único pormenor de esmero.
O concerto, onde se sente que o Graça acumulou toda a riqueza generosa da juventude, continua válido e vivo. Apenas o tema popular português do último andamento se me afigura muito «exterior», em comparação com o material que ele descobriu posteriormente, de vivacidade mais grave.
– É uma obra da mocidade!… – esclarecia o Graça, no palco.
Era desnecessário dizê-lo. A orquestração mostrava o peso da certidão de idade…
Oh! Mas que alegria técnica!

No intervalo encontrei o Gastão Cruz e apresentei-lhe o meu filho Alexandre.
– Tem 13 anos… Prepare-se. Vai dar-lhe cabo do juízo… ele e a geração dele.
Gastão Cruz riu-se.
E o Alexandre, ingénuo, ignorando que se tratava de arte e de literatura:
– É professor?

J. Gomes Ferreira

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