quarta-feira, 5 de outubro de 2011

AS ABELHAS

Após dois meses de ausência forçada, pude, finalmente, revisitar o meu pardieiro paterno.
Dormi com a janela aberta, à espera de ouvir o rouxinol. Ouvi apenas a coruja.
Dizem que é a mensageira da morte. Crendices. Há anos que lhe ouço a risada escarninha de velha da foice e ainda aqui estou.
– Vai-te bêbada! – atirei-lhe em pensamento.
A coruja desapareceu e o silêncio voltou. Senti saudades dum mocho que passava as noites a chamar pelos bois num castanheiro aqui defronte e há anos que o não ouço. Que lhe teria acontecido?
Adormeci a pensar na extinção das espécies e sonhei com abelhas. Que era Abril e eu perseguia um enxame através dos campos. Poisa, abelha mestra, poisa! E atirava-lhe o boné, mancheias de flores, ramos de árvores. O enxame não poisava e eu não desistia, através dos campos de renovo, dos lameiros de feno, das searas, das encostas floridas, cabeça no ar, olhos no enxame, ofegante, estoirado, mas feliz: Poisa, abelha mestra, Poisa!
Passei a noite atrás das abelhas.
De repente, acordei com o sol na cara e o quarto cheio de zunidos: vom, zom, vum.
– As abelhas! – gritei a mim mesmo, abrindo os olhos.
Eram moscas...
Corri a fechar a janela.
Porque será que as moscas são cada vez mais e as abelhas cada vez menos?
Ora aqui está um bom tema para uma dissertação filosófica. Mas eu, de filósofo, pouco tenho ou nada. Sou apenas um rústico. E odeio moscas...
Rais parta tanta mosca!
Bento da Cruz, PROLEGÓMENOS – Crónicas de Barroso (p. 177 e s.)

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