terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

“Tablóides” - 1973

• Por duas vezes o grande rotativo associou o meu nome ao de Teotónio Pereira: noticiando, primeiro, a minha comparência ao funeral do prócere fascista e depois à missa pelo «eterno descanso da sua alma». De que me servia desmenti-lo? A três mil milhas marítimas de Lisboa, só um milagre de ubiquidade poderia explicar a minha presença ali. Contemporâneos do liceu, nunca privei com ele, não fui seu amigo e menos ainda admirador, nem creio que nos tenhamos jamais falado. Honro-me antes de ter sido desde cedo seu adversário político, e até sua vítima. A explicação do caso: Assim que vêem no rol de qualquer acontecimento o nome de um dos vários Migueis da lista telefónica de Lisboa (alguns deles Josés e mesmo Rodrigues), certos repórteres bem-intencionados apensam-lhe logo o epíteto de «escritor». Ora eu tenho por norma não ir a baptizados, casamentos nem funerais, nem sequer dos meus inimigos. Há só um funeral a que eu não poderei faltar. Adivinhem qual é. (d.p. 30 de Março de 1976)

• Winkelsteen, judeu descrente, comprou o edifício devoluto de uma antiga sinagoga, para instalar ali uma boîte ou clube nocturno a que se chamará SIN-A-GOGO… (d.p. 18 de Maio de 7976)

• Esparguete teimamos em dizer por assimilação, como se a raiz fosse espargo (planta): em francês asperge, em inglês aspargus, em espanhol espárrago (de que fazemos esparregado), em italiano asparago, esparagio. Nada a ver com spaghetti, plural de spaghetto (ital.), que significa cordel, guita, barbante, filamento, etc. Logo, em português adoptivo – espaguete. Na realidade é uma espécie de aletria. Mas vão lá convencer o maître d’hôtel! (Revisto e publicado em 1977)

• O experiencialismo, que eu considero o húmus da verdadeira ficção, nada tem a ver com a literatura de filósofos falhados que fazem romances, ou de romancistas talhados que fazem… filosofia (ou julgam fazê-la). (d.p. 11 de Julho de 1978)

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