quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Os Cordoeiros: Terça-feira, Fevereiro 24 [2004]

Carnaval no Brasil

Nana Gouvêa dá show

Faca(da)s

O Professor Marcelo está para o comentário político como o Professor Herrero está para o faquirismo: ambos são exímios nas facas e nas facadas.
No Domingo passado, a facada aplicada no tal Director-Geral que parece que despachava sem delegação do ministro ou do secretário de Estado foi de Mestre. Mas não foi apoteótica. O Professor, o Marcelo, não resistiu àquele sorriso de desdém que ofende os pobres e apoquenta os humilhados. Eu, por exemplo, fiquei com pena do esfaqueado.
O uso indiscriminado das facas é perigoso. E é feio, também. Degolar alguém que está por terra, sem capacidade de defesa, não é um exercício de perspicácia mas uma afirmação de perversidade. O Povo não gosta e creio que o Professor Cavaco não agradecerá.
A propósito do caso Vale e Azevedo, voltou a esfaquear a Acusação, assim mesmo, com letra maíuscula e perfídia. Explicou sem saber o que estava a explicar, sustentado que se o processo tinha estado sem movimento durante 30 dias, por causa da prova, a Acusação, e aqui traduzo, o Ministério Público, era responsável. O Professor, o Marcelo, deve ter falado de ouvido e com a faca no propósito. A questão era simples: entre a produção da prova e a prolação do acórdão não poderia ter sido excedido o período de 30 dias. Se esse período foi ultrapassado, é questão que, manifestamente, não é imputável à Acusação.
Onde não há contraditório, há facadas. O Professor, o Marcelo, viciou-se a comentar entre reverências e comodidades. Pratica as generalidades com a eficácia de quem sabe explorar os sentimentos. Talvez seja uma qualidade, mas daquelas que não são para levar muito a sério.
É por estas e por outras que eu prefiro o Professor, o Herrero: sabe usar as facas sem dar facadas.

R.A.
# posto por til @ 24.2.04

Aforismos

Fêmea jurista, discurso de papa e viúva rica tudo é lenha verde - muito fumo e pouco aquece.

Agustina Bessa-Luís

Bacanal

Quero beber! cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
Evoé Baco!

Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em doido assomo...
Evoé Momo!

Lancem-na toda, multicolores,
As serepentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos...
Evoé Vénus!

Se perguntarem: Que mais queres,
Além de versos e mulheres?...
- Vinhos!... o vinho que é o meu fraco!...
Evoé Baco!

O alfange rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que eu não domo!...
Evoé Momo!

A Lira etérea, a grande Lira!...
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé Vénus!

(1918)
Manuela Bandeira, do livro Carnaval

Entrudo

Sala vulgar dum cabaré.
Antemanhã. Findou o entrudo.
Calou-se a voz do oboé.
Um par ainda: eu ao pé
da colombina de veludo.

Envergo um fato de palhaço
com lantejoilas corroídas;
largo de mais, o corpo lasso
joga mal nele; em cada braço
tombam as mangas desmedidas.

Dela afinal nada conheço.
(Meu coração, no entanto, a escuta...)
A sua mascarilha é um muro espesso.
Nada lhe dou, nada lhe peço...
Será donzela?... Prostituta?

Uma luz ácida, azulada,
espreita já pela janela.
Saio. Que baça a madrugada!
Que alheia a rua abandonada!
Que vazio na alma que enregela!

Saúl DiasGérmen (1960)
# posto por til @ 24.2.04

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