Os meninos vestidos de
preto
Contou-me uma
amiga querida – a pintora Sofía Gandarias –
que, há alguns anos, estando de visita de trabalho no Sri Lanka, antigo Ceilão, se
surpreendeu ao encontrar nas ruas grupos de rapazes vestidos com túnicas
pretas. Não lhe pareceu que se tratasse de um sinal distintivo de alguma casta ou etnia particular, tanto mais que
nenhum adulto trajava daquela maneira. De pergunta em pergunta, de indagação em
indagação, acabou por chegar à explicação das insólitas vestimentas. As
famílias desses rapazes haviam sido convencidas a entregar os filhos a
militantes do islamismo na
sua versão violenta, a jihad, para virem a
converter-se em mártires da revolução islamista, ou, por outras palavras, a
envergar um dia um colete carregado de explosivos e ir fazer-se explodir num
mercado, numa discoteca, numa estação de autocarros, em qualquer sítio onde
mais mortes pudessem causar. Ignoro se a esses pais e a essas mães foram pagas
compensações materiais ou se tudo ficou pela promessa fácil de uma entrada
imediata no paraíso de Alá.
Não sei. Não sei se aqueles rapazes de túnica preta ainda estão à espera de que
chegue a sua hora ou se já não pertencem a este mundo. Não sei nada. E vou
ficar por aqui. Não é que me faltem as palavras, é que me repugnam.
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