Eduardo Galeano
Grande
alvoroço nas redacções dos jornais, rádios e televisões de todo o mundo. Chávez aproxima-se de Obama com um livro na mão, é
evidente que qualquer pessoa de bom senso achará que a ocasião para pedir um
autógrafo ao presidente dos Estados Unidos é muito mal escolhida, ali, em plena
reunião da cimeira, mas, afinal, não, trata-se antes de uma delicada oferta de
chefe de Estado a chefe de Estado, nada menos que As
veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano. Claro
que o gesto leva água no bico. Chávez terá pensado: «Este Obama não sabe nada
de nós, quase que ainda não tinha nascido, Galeano lhe ensinará». Esperemos que
assim seja. O mais interessante, porém, além de se terem esgotado As veias na Amazon, as quais passaram
num instante de um modestíssimo lugar na tabela de vendas à glória comercial do
best-seller, de
cinquenta e tal mil a segundo na classificação, foi o rápido e parecia que
concertado aparecimento de comentários negativos, sobretudo na imprensa,
tratando de desqualificar, embora num caso ou noutro com certos matizes
benevolentes, o livro de Eduardo Galeano, insistindo em que a obra, além de se
exceder em análises mal fundamentadas e em marcados preconceitos ideológicos,
estava desactualizada em relação à realidade presente. Ora, As veias abertas da América Latina foi
publicada em 1971, há quase quarenta anos, portanto, a não ser que o seu autor
fosse uma espécie de Nostradamus,
só com um hercúleo esforço imaginativo seria capaz de adiantar a realidade de
2009, tão diferente já dos anos imediatamente anteriores. A denúncia dos
apressados comentadores, além de mal-intencionada, é bastante ridícula, tanto
como o seria a acusação de que a História
Verdadeira da Conquista da Nova Espanha, por exemplo, escrita no século
XVII por Bernal
Díaz del Castillo, abunda, também ela, em análises mal fundamentadas e em
marcadíssimos preconceitos ideológicos. A verdade é que quem pretender ser
informado sobre o que se passou na América, naquela América,
desde o século XV, só ganhará em ler o livro de Eduardo Galeano. O mal daqueles
e outros comentadores que enxameiam por aí é saberem pouco de História. Agora só nos
falta ver como aproveitará Barack Obama da leitura de As veias abertas. Bom aluno parece ser.
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