Mahmud Darwish
No próximo
dia 9 de Agosto cumprir-se-á um ano sobre a morte de Mahmud Darwish, o
grande poeta palestino.
Fosse o nosso mundo um pouco mais sensível e inteligente, mais atento à
grandeza quase sublime de algumas das vidas que nele se geram, e o seu nome seria
hoje tão conhecido e admirado como o foi, em vida, por exemplo, o de Pablo Neruda. Enraizados
na vida, nos sofrimentos e nas imortais esperanças do povo palestino, os poemas
de Darwish, de uma beleza formal que frequentemente roça a transcendência do inefável
numa simples palavra, são como um diário onde vieram sendo registados, passo a
passo, lágrima a lágrima, os desastres, mas também as escassas, ainda que
sempre profundas alegrias, de um povo cujo martírio, decorridos sessenta anos,
ainda não parece disposto a anunciar o seu fim. Ler Mahmud Darwish, além de uma
experiência estética impossível de esquecer, é fazer uma dolorosa caminhada
pelas rotas da injustiça e da ignomínia de que a terra palestina tem sido
vítima às mãos de Israel, esse verdugo de quem o escritor israelita David Grossmann, em hora
de sinceridade, disse não conhecer a compaixão.
Hoje, na
biblioteca, li poemas de Mahmud Darwish para um documentário que será
apresentado em Ramala no
aniversário da sua morte. Estou convidado a lá ir, veremos se me será possível
fazer essa viagem, que certamente não seria grata à polícia israelita.
Recordaria então, no próprio local, o abraço fraterno que nos demos há sete
anos, as palavras que trocámos e que nunca mais pudemos renovar. Às vezes, a
vida tira como uma mão aquilo que tinha dado com a outra. Assim me aconteceu
com Mahmud Darwish.
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