Camisola
Quando hoje
saí do hospital, fresco como uma rosa, trazia comigo duas satisfações. Uma, a
de me ter visto livre, finalmente, de uma impertinente bronquite que há meses,
com altos e baixos, parecia não querer largar-me, mas que desta vez teve de
resignar-se a ir à procura doutro hospedeiro. Oxalá não o encontre. A segunda
satisfação era de diferente natureza. Sucede que neste pequeno hospital de
Lanzarote, certamente com surpresa de quem me leia, trabalham nada mais, nada
menos que 17 ou 18 enfermeiros vindos de Portugal, da província do Minho na sua
maior parte. Sucede também que, antes de sair, tive de fazer uma radiografia ao
tórax para que ficasse devidamente documentado que o paciente, como costuma
dizer-se, está bem e recomenda-se. Eu levava posto o que hoje chamamos um jersey, portanto foi um jersey que despi e deixei em cima de uma
cadeira. O enfermeiro, português de Felgueiras, devia verificar se as chapas
haviam resultado tecnicamente satisfatórias e, para isso, teve de passar para
um compartimento ao lado. Disse: “São só dois minutos, depois dou-lhe a camisola”.
Creio que estremeci. Não tornara a ouvir a palavra desde há uns trinta anos,
talvez mais, e aqui, em Lanzarote, a dois mil quilómetros da pátria, um jovem
enfermeiro de Felgueiras, sem o imaginar, dizia-me que a língua portuguesa ainda
existia. Abençoada bronquite.
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