EDUARDO PRADO COELHO: quinta-feira, 28 de Setembro de 2006
Vou contar tudo desde o princípio.
Anteontem fiz a minha crónica habitual e preparei-me, como faço há vários anos,
para mandar tudo pela Internet. É só carregar, e limpinho! E então apareceu uma
indicação a dizer que não estava ligado à Internet. Como é que estas coisas
acontecem, é para mim um mistério. Na véspera estava tudo bem e alguns demónios
informáticos introduzem-se no meu computador e produzem uma incompreensível
desordem. De manhã, mesmo ao raiar da aurora, já nada era como dantes. A gente
começa a carregar teclas e as coisas só tendem a piorar. Pavoroso.
Mas no meu caderninho dedicado a todos os
endereços do mundo encontrei netcabo - apoio ao cliente. Tinha depois um
daqueles sistemas em que se a gente quer fazer uma assinatura carrega um, se
quer apoio técnico carrega dois, etc. Passei para o apoio técnico e, se bem me
lembro, foi aí que encontrei mais uma indicação que dizia que se eu estava no
Norte devia carregar um, se estava no centro devia carregar dois, se estava no
Sul devia carregar três, o que fiz. Resultou. Apareceu um senhor que perguntou
o meu nome, o meu número de cliente, e o seu interesse por mim foi crescendo:
quis saber a morada, o número do bilhete de identidade, embora as medidas da
cintura tenham ficado certamente para mais tarde (também não são grande coisa).
Depois desta identificação rigorosa, perguntou-me qual era o meu problema:
expliquei-lhe que estava sem Internet, e então ele recomendou-me aquela receita
mágica que consiste em desligar os cabos sucessivamente e por vezes colocar a
ponta que estava de um lado no outro. Tentou que eu desligasse o modem da
electricidade, mas expliquei-lhe que não conseguia: só desfazendo o modem ou
arrancando um pedaço de parede.
Foi nessa altura que quis saber qual era o
meu tipo de modem, que cor tinha (é cremezinho encardido), se era quadrado ou
rectangular e que números tinha na parte debaixo. Lá tentei debruçar-me sobre
as entranhas do bicho e recitar um certo número de números e letras. Concluiu o
senhor que aquilo ultrapassava o seu âmbito de competência e que era melhor que
me enviassem um técnico, o que só poderia ser feito no system care. Lá fui e
apareceu um novo senhor, cujo nome me comunicou, e fez todas as perguntas que o
anterior havia feito. Chegou depois à conclusão de que era preciso fazer um
certo tipo de operações: vai à maçã, carrega localização, aí aparecem
preferências do sistema, escolhe essa opção, depois vê o seu IP (aqui a minha
alma arrepanhou-se). Mas consegui. Nessa altura o senhor verificou que a minha
zona estava em manutenção da Internet e só hoje poderia ter qualquer conclusão.
Hoje telefonei e recomeçámos: todas as perguntas, todas as opções possíveis,
até que ao cabo de hora e meia o telefone, já exausto como eu, desligou-se.
Liguei de novo para o system care, mas apareceu agora um outro senhor e
preparava-se já para a mesma odisseia quando lhe disse o nome do senhor
anterior e disse que era com ele que pretendia falar. Disse-me que não podia
fazer transferências. Expliquei-lhe que não tinha mais hora e meia para passar
com ele. Respondeu: então, quando tiver tempo, telefone. Tempo não tinha, mas
arranjara tema para a crónica.
Professor universitário
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