sábado, 28 de setembro de 2013

O CRIME DE RASTANI

O que o corrector da Bolsa de Londres Alessio Rastani disse na BBC e lhe granjeou notoriedade instantânea foi o que toda a gente sabia mas tinha medo de ouvir: os Estados pouco podem fazer quanto à presente crise porque «quem governa o Mundo é o Goldman Sachs [banco que esteve, em 2007, na origem da crise financeira internacional] e o Goldman Sachs não está interessado no resgate do euro».
E mais: euro e bolsas vão afundar-se e milhões de pessoas perder as suas poupanças para os bolsos concretos dos abstractos «mercados» e a crise e miséria de muitos constitui uma grande oportunidade de enriquecimento de uns poucos, como os venturosos «25 mais ricos de Portugal», cujas fortunas cresceram, com os despedimentos mais a desgraça generalizada do país, para 17,4 mil milhões.
O crime assacado a Rastani foi o de défice de hipocrisia pois há coisas que os lobos pensam e fazem mas não dizem aos cordeiros. Falou como «porta-voz dos mercados» e não escondeu as intenções: «O nosso [especuladores financeiros] trabalho é ganhar dinheiro com [a crise]. Todas as noites sonho com mais uma recessão».
Talvez façam assim mais sentido justificações como «A troika exige» dadas pelos serventuários locais dos «mercados» para as políticas recessivas em curso e o «aviso» deixado pelo secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro aos pagantes do costume de que a recessão será, em 2012, ainda mais profunda que o previsto.

Manuel António Pina: JN, 28/09/2011 

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