O que o corrector da Bolsa de
Londres Alessio
Rastani disse na BBC e lhe granjeou notoriedade instantânea foi o que toda
a gente sabia mas tinha medo de ouvir: os Estados pouco podem fazer quanto à
presente crise porque «quem governa o Mundo é o Goldman
Sachs [banco que esteve, em 2007, na origem da crise financeira internacional]
e o Goldman Sachs não está interessado no resgate do euro».
E mais: euro e bolsas vão
afundar-se e milhões de pessoas perder as suas poupanças para os bolsos
concretos dos abstractos «mercados» e a crise e miséria de muitos constitui uma
grande oportunidade de enriquecimento de uns poucos, como os venturosos «25
mais ricos de Portugal», cujas fortunas cresceram, com os despedimentos mais a
desgraça generalizada do país, para 17,4 mil milhões.
O crime assacado a Rastani foi
o de défice de hipocrisia pois há coisas que os lobos pensam e fazem mas não
dizem aos cordeiros. Falou como «porta-voz dos mercados» e não escondeu as
intenções: «O nosso [especuladores financeiros] trabalho é ganhar dinheiro com
[a crise]. Todas as noites sonho com mais uma recessão».
Talvez façam assim mais
sentido justificações como «A troika exige» dadas pelos serventuários locais
dos «mercados» para as políticas
recessivas em curso e o «aviso» deixado pelo secretário de Estado adjunto do
primeiro-ministro aos pagantes do costume de que a recessão será, em 2012,
ainda mais profunda que o previsto.
Manuel António Pina: JN, 28/09/2011
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