EDUARDO PRADO
COELHO - quarta-feira, 27 de Setembro de 2006
Penso que a vida portuguesa está
dominada por algumas palavras, muitas vezes siglas que passam de boca em boca.
Uma delas é OPA. Havia mesmo um jornal que tinha o "diário das opas".
Não sei ao certo do que se trata nos seus meandros económicos. Fico-me por uma
ideia geral que já permite afirmar que é coisa que não está ao meu alcance e
excede claramente os meus recursos. Vou chegar ao cabo dos meus dias sem ter
feito uma OPA a ninguém, nem mesmo uma opazinha modesta e sem ambições.
Paciência: temos de viver com aquilo que temos.
A segunda coisa que entrou em moda
são as providências cautelares. Cautela e caldos de galinha... Mas não é bem
disso. Um preso é contra a troca de seringas nas prisões, e pronto, lança uma
providência cautelar. Eu acho que o meu vizinho é demasiado ruidoso e lá vai
mais uma providência cautelar. Tanto quanto entendo, trata-se de uma modalidade
formalmente jurídica daquele velho princípio de "alto e pára o
baile". Porque, enquanto o tribunal não se pronuncia (e Deus sabe que nem
sempre são céleres), não se pode fazer mais nada. Resta-nos ir à praia ou
passear em Monsanto: não há nem reuniões, nem nomeações, nem decisões.
Mas há outra sigla que entrou em
voga e que hoje está em todo o lado. Trata-se de "SPA", que já não
designa a Sociedade Portuguesa de Autores, mas, sim, uma forma de tratarmos do
nosso corpo para que ele se torne mais alto, mais belo e mais feliz (sobretudo
no amor). SPA começou por querer dizer a saúde pela água, mas agora pode ser
água, vinho, laranjada ou salsaparrilha. Comprei um gel de banho que diz que é
SPA, o que já ultrapassa o meu entendimento. Todos os hotéis, mesmo os nas
aldeias do interior mais profundo, anunciam o seu SPA. A minha existência já
não teria sentido sem um SPA de vez em quando: massagens faciais, massagens nos
pés (óptimo, óptimo), massagens no crânio, deslocando levemente os ossos do meu
clandestino esqueleto, massagens nas costas, pedras quentes sobre o corpo,
aromoterapia, tudo converge para incentivar o meu bem-estar e proporcionar-me
mais uns anos de vida (que a vida eterna, essa, já não está ao alcance do SPA).
Trata-se de uma apoteose daquela relação com o corpo que tinha as suas práticas
já consolidadas (no Brasil, tomos os meus amigos iam para a
"malharão"). Depois descobri um modo extremamente agradável de passar
o tempo: as massagens no aeroporto de São Paulo (já estão a chegar até
nós"). Mas trata-se não apenas da saúde do corpo, mas dos prazeres sempre
infindáveis desse corpo - que por sinal é o meu...
P.S. - Confesso o meu erro. Induzido
por uma informação que não era fidedigna, escrevi que O
Livro do Desassossego era caro. Mas nada disso. Num esforço assinalável, o
editor, Assírio e Alvim, conseguiu que esta magnífica edição se venda por 25
euros. Comprem, portanto, porque compensa.
Professor universitário
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