sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Massagens

EDUARDO PRADO COELHO - quarta-feira, 27 de Setembro de 2006
Penso que a vida portuguesa está dominada por algumas palavras, muitas vezes siglas que passam de boca em boca. Uma delas é OPA. Havia mesmo um jornal que tinha o "diário das opas". Não sei ao certo do que se trata nos seus meandros económicos. Fico-me por uma ideia geral que já permite afirmar que é coisa que não está ao meu alcance e excede claramente os meus recursos. Vou chegar ao cabo dos meus dias sem ter feito uma OPA a ninguém, nem mesmo uma opazinha modesta e sem ambições. Paciência: temos de viver com aquilo que temos.
A segunda coisa que entrou em moda são as providências cautelares. Cautela e caldos de galinha... Mas não é bem disso. Um preso é contra a troca de seringas nas prisões, e pronto, lança uma providência cautelar. Eu acho que o meu vizinho é demasiado ruidoso e lá vai mais uma providência cautelar. Tanto quanto entendo, trata-se de uma modalidade formalmente jurídica daquele velho princípio de "alto e pára o baile". Porque, enquanto o tribunal não se pronuncia (e Deus sabe que nem sempre são céleres), não se pode fazer mais nada. Resta-nos ir à praia ou passear em Monsanto: não há nem reuniões, nem nomeações, nem decisões.
Mas há outra sigla que entrou em voga e que hoje está em todo o lado. Trata-se de "SPA", que já não designa a Sociedade Portuguesa de Autores, mas, sim, uma forma de tratarmos do nosso corpo para que ele se torne mais alto, mais belo e mais feliz (sobretudo no amor). SPA começou por querer dizer a saúde pela água, mas agora pode ser água, vinho, laranjada ou salsaparrilha. Comprei um gel de banho que diz que é SPA, o que já ultrapassa o meu entendimento. Todos os hotéis, mesmo os nas aldeias do interior mais profundo, anunciam o seu SPA. A minha existência já não teria sentido sem um SPA de vez em quando: massagens faciais, massagens nos pés (óptimo, óptimo), massagens no crânio, deslocando levemente os ossos do meu clandestino esqueleto, massagens nas costas, pedras quentes sobre o corpo, aromoterapia, tudo converge para incentivar o meu bem-estar e proporcionar-me mais uns anos de vida (que a vida eterna, essa, já não está ao alcance do SPA). Trata-se de uma apoteose daquela relação com o corpo que tinha as suas práticas já consolidadas (no Brasil, tomos os meus amigos iam para a "malharão"). Depois descobri um modo extremamente agradável de passar o tempo: as massagens no aeroporto de São Paulo (já estão a chegar até nós"). Mas trata-se não apenas da saúde do corpo, mas dos prazeres sempre infindáveis desse corpo - que por sinal é o meu...
P.S. - Confesso o meu erro. Induzido por uma informação que não era fidedigna, escrevi que O Livro do Desassossego era caro. Mas nada disso. Num esforço assinalável, o editor, Assírio e Alvim, conseguiu que esta magnífica edição se venda por 25 euros. Comprem, portanto, porque compensa.

Professor universitário

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