Provavelmente está tudo dito. Mesmo o sentimento da
ociosidade e da inutilidade das palavras é uma sensação infinitamente cansada.
E, no entanto, temos que dizer tudo de novo todos os dias, de juntar os pedaços
dispersos do mundo e, com eles, descobrir para nós um lugar do nosso tamanho
ou, ao menos, uma forma de sentido para aquilo a que chamamos a nossa vida. E,
para isso, tudo o que temos são palavras. O que sabemos: palavras; o que
sonhamos: palavras; o que sentimos: palavras; e a nossa própria boca que fala
é, também ela, só uma frágil e insegura palavra.
O cronista é filho de Cronos, o tempo que passa, e a
crónica vive o mesmo redundante destino do jornal que, como os velhos tipógrafos
diziam, no dia seguinte serve apenas para embrulhar peixe (e que outro destino
tem tudo senão o esquecimento?).
Está então o cronista diante do mundo e de si próprio.
E só pode repetir (na melhor das hipóteses por outras palavras, donde o título
genérico destas crónicas) aquilo que cada homem imemorialmente repete: o amor e
a morte, o medo e a esperança, a alegria e a decepção.
Acontece assim nos sonhos. Temos medo e sonhamos com a
esfinge. A verdade, porém, não é a esfinge, a verdade é o medo; a esfinge é só
a imprecisa forma do nosso medo. Também a crónica aqui falará, a partir de
hoje, de gente, de factos, de acontecimentos, mas o que dirá é outra coisa. E
essa coisa é que é a verdadeira.
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