Netanyahu
Só porque não
podia continuar calado é que falou. Encostado à parede pelo presidente dos
Estados Unidos, o primeiro-ministro israelita condescendeu, finalmente, em
admitir a criação de um Estado palestino.
Não foi mais longe. Ou sim, exigiu que esse futuro Estado (sê-lo-á alguma vez?)
não tenha exército e que o seu espaço aéreo seja controlado por Israel. Quer dizer, novas formas
de manter os palestinos na situação de menoridade política em que têm sido
forçados a viver pela opressão judaica. No entanto, o outro ponto essencial da
posição de Barack Obama,
o dos assentamentos e dos colonos, não mereceu a Netanyahu uma única
palavra. Ora, todo o mundo sabe que a Cisjordânia, em teoria
espaço «nacional» do povo palestino, está coberto de assentamentos, uns «legais»
(isto é, autorizados e construídos pelo governo de Tel-Aviv), outros «ilegais»
(aqueles a que o mesmo governo tem feito vista grossa). No total, são mais de
200 assentamentos e neles vivem meio milhão de colonos, que hoje, a todas as
luzes, se apresentam como o maior obstáculo à paz, além do reconhecimento do
direito dos palestinos a um Estado independente e viável. Já o havia feito
antes o próprio Bush
pai quando fez ver a Israel que querer falar ao mesmo tempo de paz e
assentamentos era uma contradição insanável. Disto parecia estar consciente o
ex-primeiro-ministro Ehud
Olmert que em declarações ao jornal Haaretz
em Novembro de 2007 disse que se não se chegasse rapidamente a uma solução com
dois Estados, «o Estado de Israel estaria acabado». Não fez nada para que a
questão se resolvesse, mas as palavras aí ficam. Elas ajudam a compreender como
os colonos sempre foram a espada de Dâmocles suspensa sobre
os governos israelitas e agora, por maioria de razão, sobre a cabeça de Netanayahu.
Creio que Israel vive sob o medo de ter de voltar à diáspora, à dispersão pelo
mundo que parece ser o seu destino. A mim não me alegra nada, mas haveria que
ver se os judeus de Israel tiveram os governos de que a paz necessitava.
Dêem-lhe as voltas que quiserem, a resposta é negativa.
José Saramago, O CADERNO
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