sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

[1968], 14 de novembro

O Redol enviou-me os Avieiros, reescritos recentemente com carinho de querer salvar do naufrágio um sonho velho. Desfolhei-o e, mais uma vez, senti esta verdade dominante na obra de Redol: o amor pelo povo-povo de pele verdadeira e suor real, bem diferente do que nós inventamos para os nossos livros pequeno-burgueses.
Basta ler-lhe uma página para se perceber logo que conviveu intimamente com os camponeses, não se enojou com o cheiro a carne de trabalho das carruagens de 3.ª classe, bebeu pelos copos das tabernas da malta, comeu do mesmo alguidar comum dos ganhões.
Isto é: Redol conhece-os em profundidade suficiente para poder dá-los como ninguém em superfície. Artisticamente falha, claro. Muitas vezes. (Não tem o sortilégio nem o talento literário de um Carlos de Oliveira ou de um Manuel da Fonseca.) E ninguém lhe poupa as fraquezas – como se provou quando lhe negaram o prémio Camilo Castelo Branco ao seu notabilíssimo romance Barranco de Cegos

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