• «Como autênticos anarquistas cristãos – agnósticos,
é claro; ou para precisar melhor: anarco-ético», disse-me o filósofo, pousando
em mim um olhar sereno e grave, «repudiamos a violência seja em que forma e a
que pretexto for. Somos não só contra o Estado, o Governo ou a Autoridade, mas
também contra a Política, os políticos e os Partidos, cuja única finalidade é
conquistar o Poder para o exercerem sobre os outros homens. Por isso não
aspiramos a governar nem temos planos de governação. Embora em graus diversos,
ainda quando nos pareçam úteis ou necessários, todos os governos são maus:
deixando-lhes as respectivas responsabilidades! Representamos aquilo que Alain
chamou L’Homme contre les Pouvoirs.
As nossas armas são a indiferença ou desprezo pelos que governam, o protesto ou
contestação, e nos casos extremos a resistência ou desobediência civil. Mas
nunca o terrorismo, que acaba sempre no crime ou na conversão oportunista. Tal
é a nossa “religião cívica”.» Nisto, acordei a meditar na seriedade e nitidez
de certos sonhos.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
2 de Janeiro de 1978
• «E julga o amigo que poderia haver em Portugal, por
exemplo, um Heinrich Böll?»
«De modo algum. Não só devido à falta, entre nós, de situações e caracteres
apropriados, mas porque, se ele aparecesse, ninguém daria pela sua presença. Ou
seria imediatamente esborrachado pela influência corrosiva, destrutiva, dos
nossos pontífices literários – críticos, professores, académicos,
dicionaristas, fundacionistas… enfim, pelos empenachados Acácios que em todos
os sectores desde há muito nos governam!»
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